Meus irmãos e minhas irmãs,
Neste mês de maio a Virgem Maria caminhou conosco estes trinta e um dias. Por todos os cantos de nossa Arquidiocese muitos foram os louvores a Deus, na pessoa da Virgem Maria, Mãe de Deus, Mãe da Igreja e mãe de todos os batizados. Assim tivemos as coroações com as crianças cantando os louvores de Maria e rendendo graças a Deus pela presença da Virgem Maria em nosso meio. A festa que hoje celebramos foi uma feliz iniciativa dos frades menores franciscanos à partir do século XIII. O Sumo Pontífice Bonifácio IX introduziu a hodierna festa no calendário universal da Igreja e o Papa Clemente VIII, em 1608, compôs os textos litúrgicos usados até a última reforma litúrgica.
O mês de Maio é, portanto, fechado com esta festa, a Visitação de Nossa Senhora a sua prima Isabel, que no terço nos contemplamos no segundo mistério gozoso. A Virgem Maria foi visitar a sua prima Isabel. Solícita, Maria colocou-se a fazer o serviço das lides domésticas para a sua prima Isabel que estava grávida de João Batista, o precursor. Mais do que prestar serviços a anciã Isabel, a jovem Maria foi ser a presença amorosa e reconhecida de que Isabel, estéril, foi abençoada, por obra e graça de Deus, já na velhice com um filho. Por isso, a Virgem Maria é a comunicadora a sua prima da alegria de conceber e de dar a luz a um filho, que é “prodígio” operado por Deus na vida daquela que rezou durante toda a sua vida para ter a graça da maternidade.
A Festa hodierna é a Festa do Magnificat, a Visitação prolonga e irradia a alegria messiânica a salvação. Maria, arca da nova aliança, é “teófora” (portadora de Deus) e saudada por Isabel como Mãe do Senhor. A Visitação é o encontro entre a jovem mãe, Maria, a serva do Senhor, e a anciã Isabel, símbolo de Israel que espera. A solicitude carinhosa de Maria com o seu caminhar apressado (Lc 1,39) exprime, também, juntamente com o gesto de caridade, o anúncio de que os tempos se cumpriram. João que estremece no seio materno inicia desde já sua missão de Precursor. O calendário litúrgico leva em conta a narração evangélica que coloca a Visitação no período dos três meses entre a Anunciação e o nascimento do Batista, o precursor (Lc 1,56).
Além das motivações humanas, o evangelista Lucas acrescenta uma motivação divina: Maria ao chegar na casa de Isabel é saudada pela prima com esta profissão de fé edificante: “Bendita és tu entre todas as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?”(Cf. Lc 1, 42-43). Enquanto Maria traz no seu frente o seu filhinho bendito é ela a verdadeira morada de Deus, e como tal é reverenciada pela prima. Realmente, Deus vem habitar entre o gênero humano, porém sua morada não é mais um templo de pedra, mas é uma pessoa bendita, escolhida por Deus e desposada pelo Espírito Santo para cumprir a vontade do Pai, que é mandar o seu Filho unigênito ao mundo para que o mundo seja redimido pela Cruz redentora.
Meus irmãos,
A Primeira Leitura de Sofonias (Sf 3,14-18) nos apresenta dois temas da salvação: o primeiro que é o perdão dos pecados, a libertação do mal, a revogação a condenação e o segundo, em sentido mais propositivo, a reconciliação e a comunhão com Deus. Por isso dentro destes dois gestos que nos possibilita o acesso a Deus advém a alegria que é o resultado conseqüente de uma profunda paz com Deus. Assim, Deus através de seu profeta, faz sentir ao povo santo sua voz e o seu amor próximo. A esperança que, por natureza, é uma jovem criatura a que falta o senso do real e às vezes da prudência, fala da experiência, da sabedoria e da humildade. A alegria do Evangelho é uma alegria que vem do alto mas que, ao mesmo tempo, deve surgir de um coração de homem: é uma alegria completa, da qual Jesus é o iniciador definitivo. Alegria de cumprir a vontade do Pai do qual Jesus foi o mais perfeito porta-voz.
Caros irmãos,
O Evangelho (Lc 1,39-56), que é da visita de Nossa Senhora a sua prima Isabel, é o relato de uma caminhada de fé profunda. Maria percorre o mesmo caminho que a arca de Davi percorreu de Judá até Jerusalém. Por esta mesma estrada caminhará Nosso Senhor Jesus Cristo, quando resolutamente se dirigir a Jerusalém. Três viagens significativas: a da arca, a de Maria hoje celebrada e a de Jesus, seguem todas o mesmo caminho de Deus rumo à humanidade velha e que clama, novamente grávida de um novo homem que, pela alegria do anúncio da salvação já próxima, salta no ventre de sua Mãe.
Aqui estão contempladas diante de nossos olhos duas mães: Isabel e Maria que, uníssonas, elevam a Deus o seu hino de louvor pelas maravilhas que Deus operou em suas vidas.
Maria, compreendendo os mistérios de Deus, vai ao encontro de Isabel para comunicar-lhe os sinais de Deus pela gravidez de Isabel. Obediente, Maria se faz obreira do espírito alegre e fulgurante, mesmo caminhando por caminhos tortuosos, para se colocar em atitude de serviço à sua prima. A maternidade de Maria é o mistério de sua grandeza pessoal, pela fé na força e no poder da Palavra de Deus.
Grávida pelo poder do Espírito Santo, Maria comporta-se como a primeira Discípula de Jesus. Antes que o Filho nascesse, Maria age em favor dos necessitados, exatamente como Jesus ensinará adiante. Dirige-se apressadamente à casa de Isabel. Ajudar e servir quem está em situação de necessidade é urgente. Isabel e João (o Antigo Testamento), movidos pelo Espírito Santo, reconhecem a chegada do Novo em Jesus, o Salvador, “sal nascente que nos veio visitar” (Lc 1,78). Neste ambiente de pura alegria, Maria é proclamada Bem-Aventurada. Trata-se da primeira bem-aventurança no Evangelho de Lucas, a bem-aventurança da fé! Pela fé, Maria disse sim a Adeus, confiando nas promessas do Senhor Deus. Maria cantou as maravilhas de Deus em seu favor (Lc 1,46-50) e em favor de todos os pobres e de todos os humildes (Lc 1,51-55). Além disso, o cântico de Maria, o Magnificat, é denúncia e anúncio. Denuncia a soberba do coração dos poderosos do mundo, fonte de sofrimento para os simples, os pobres e os humildes. Anuncia a santidade de Deus e a força misericordiosa de seu braço, que liberta e salva os pequenos que o temem. Por Jesus e nele, tudo isso se cumpriria!
Meus irmãos,
Celebrar a visitação de Nossa Senhora é repetir o gesto de Isabel: cantar o Magnificat, que é o grande hino de ação de graças, de júbilo e de louvor, uma autêntica profissão de fé de quem sempre confiou nos desígnios de Deus. Que nós possamos ter a atitude de Isabel, que grávida em idade avançada, nunca deixou de bendizer a Deus por esta graça e sempre se colocou confiante na vontade de Deus, que é misericórdia e ternura. E, seguindo Maria, a Mãe do Redentor, possamos sempre visitar aqueles que mais precisam de nossos préstimos, sempre servindo com alegria para que o mundo creia que nosso Redentor nos coloca na perspectiva de sermos úteis para a santificação de todos. Que o sim radical de Maria Santíssima nos ensine a ser dóceis à ação do Espírito Santo mediante a prática dos gestos concretos em favor dos irmãos e das irmãs. Santa Maria Mãe de Deus, rogai por nós que recorremos a Vós.