Atualmente existe uma tendência que exalta tudo aquilo que se refere à subjetividade, a ponto de desembocar no “opinionismo”, onde qualquer um pode dizer o que quiser a respeito de tudo sem, com isso, ter que fundamentar coisa alguma. Inclusive, o desaparecimento dos sinais de transcendência e a perda de credibilidade de muitas instituições “fornecedoras de sentido” (Igrejas, Ideologias, partidos políticos, etc.) acentuam ainda mais este aspecto sombrio do nosso tempo. Emerge, cada vez mais, a sensação de um mal-estar generalizado que, por sua vez, produz efeitos tipicamente modernos, como: depressão, solidão, insatisfação e angústia existencial.
Diante desses e de outros fatores que reduzem tudo ao “subjetivo” e à opinião pessoal, o ser humano corre o sério risco de perder sua capacidade de pensar, de refletir e de buscar fundamentos e razões que dêem sentido à sua existência. Hoje, talvez, uma das tarefas mais urgentes seja a de resgatar “pontos de referência”, onde a vida possa encontrar seu sentido, seu ritmo e seu rumo. Portanto, diante da aceleração e da fragmentação da sociedade atual, uma releitura do Salmo 65 pode oferecer um desses “pontos de referência”. Com efeito, o salmista, com esmerado lirismo, expressa o seu agradecimento a Deus por 3 motivos.
Em 1.º lugar, porque Deus escuta a oração e a súplica de todos; perdoa as faltas do povo e acolhe a todos em sua casa, e porque sacia o seu povo (vv.3-5). Em 2.º lugar, porque responde ao seu povo com “prodígios de justiça”; é o salvador do seu povo e a esperança dos outros povos; é Senhor do universo e da história, incute respeito nos povos longínquos e suscita cantos de louvor da aurora e do ocaso numa sinfonia universal (vv.6-9). Enfim o poeta, em poucas pinceladas, traça o quadro do envolvimento de Deus no processo fecundo da natureza, de modo que tudo é fruto do “trabalho divino”.
Então a alegria e o canto brotam de todo lado: pelas chuvas fecundas do outono, pela vinda da primavera e pela fartura dos frutos. A natureza toda coloca a sua “veste mais bonita” para festejar, cheia de júbilo e de canções, a Presença Divina (vv.10-14). O resultado dessa visão formidável é a imagem de que Deus é realmente “confiável”: ele escuta as lamentações do seu povo esmagado pelos próprios limites, e responde com o prodígio do perdão, para fazer resplandecer a justiça, a ordem e a harmonia do universo. Também os que moram no oriente ou no ocidente podem confiar nele, obtendo uma resposta de salvação.
Ele está sempre em atividade: “trabalha” construindo o universo; firma as montanhas, controla as forças rebeldes do mar e domina também o tumulto das nações. A ação divina suscita júbilo e temor reverencial em todos, transformando os habitantes do mundo, e as portas da aurora e do ocaso, em testemunhas de sua grandeza. No entanto, esse mesmo Deus, que estabelece montanhas e controla mares e impérios, atua também como “camponês”: prepara a terra, aplana seus torrões e rega seus sulcos. A natureza, que reflete a beleza do seu Criador (Sb 13,3), canta de alegria na “sinfonia inacabada” do mundo e da história.
Autor: Sérgio Bradanini
www.pime.org.br
|