No nosso mundo contemporâneo, muitas vezes dominado pelo interesse ou até mesmo pelo cinismo, estão surgindo movimentos que se organizam contra a proliferação de armas e lutam para que o entendimento e a paz prevaleçam e sejam estabelecidas. Dentro da onda de "pacifismo", infelizmente há também quem deseja evitar o confronto direto com a situação de tristeza e de sofrimento dos que estão vivendo em situação de conflito.
Diante disso, há fechamento ou indiferença. Neste caso, o desejo e a defesa da paz expressam unicamente a vontade de quem não quer ser incomodado e não quer se comprometer a favor do direito e da justiça. É a atitude de quem quer "ser deixado em paz", é um álibi atrás do qual se mimetiza todo tipo de egoísmo e de vaidade. É evidente que, quando a ruptura das relações humanas continua sendo imensa e a consolação ausente, a busca da paz não se identifica pura e simplesmente com um desejo de tranqüilidade e de segurança.
Toda esta questão exige envolvimento pessoal e muita responsabilidade. Com efeito, ela não nasce de emoções passageiras ou até mesmo de bons sentimentos, mas surge como um imperativo e como uma tarefa urgente, sobretudo para quem se deixa guiar pela mensagem do Evangelho. É suficiente lembrar um texto de João para se dar conta disso: "Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou, não como o mundo a dá eu vo-la dou. Não se perturbe o vosso coração, nem se intimide". Logo é possível perceber que se trata de algo que não se identifica só com o objeto do desejo e da busca humana.
A paz, de acordo com João, é algo mais consistente, pois coincide com o dom entregue por Jesus a seus discípulos. É preciso notar a sua insistência: "Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou!". Jesus confia aos discípulos um dom, que segundo a Bíblia só Deus pode dar. Que sentido tem o dom da paz de Jesus? Naturalmente, em primeiro lugar, lembra o "Shalom/Paz" da tradição bíblica, para a qual o termo não indica somente a ausência de conflito, mas comporta tudo aquilo que pode caracterizar uma experiência de vida plenamente feliz.
Por isso, segundo as promessas proféticas, a Paz seria uma realidade dos tempos messiânicos, sinal e ao mesmo tempo fruto da justiça (Is 32,17): "Eis que farei correr a paz como um rio..."
(Is 66,12). Interessante é também a evocação do salmista: "Que em seus dias floresça a justiça e muita paz até o fim das luas" (Sl 72,7). No entanto, Jesus não se limita ao já denso e profundo significado da Paz na Escritura, mas vai além. Antes de tudo ele doa a Paz aos seus discípulos a partir de sua relação de Filho com o Pai, por isso a qualifica dizendo "a minha paz!" (origem divina).
Em segundo lugar esta paz não está mais ligada à sua "presença corporal", mas à sua "presença salvífica". De fato, Jesus Ressuscitado, juntamente com sua paz, dará aos discípulos o Espírito Santo e o poder de perdoar (Jo 20,19-23). O dom recebido se transforma em missão de transmitir o perdão. Enfim, é preciso lembrar que Jesus cumpre este gesto de "deixar" o dom da paz no momento em que os discípulos são tomados pela tristeza da despedida de seu Mestre. Trata-se, portanto, de uma "herança" que eles devem transmitir segundo a mesma lógica da gratuidade.
Os verbos usados, todos no presente, querem mostrar a realidade atual e a duração indeterminada do dom. Diferentemente de Jesus, o mundo proporciona uma paz ilusória que não tem sua fonte em Deus. O efeito visível e concreto do dom de Jesus se manifesta na missão dos discípulos transformados em portadores da mesma paz no mundo. A dupla exortação "não se perturbe, nem se intimide o vosso coração" confere à missão dos discípulos uma força e uma coragem extraordinária, para que eles sejam, num mundo repleto de contradições, sinal da Paz de Deus entre as nações.
Autor: Sérgio Bradanini
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