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A luz do mundo
 
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Jesus, de novo, falava-lhes dizendo: 'Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará na treva, mas terá a luz da vida'". Esta é uma expressão de São João que, mesmo desvinculada do seu contexto mais amplo (8,12-20), desempenha uma função essencial: faz pensar. Faz pensar, antes de tudo, nos adversários imediatos que, logo em seguida, tentam neutralizá-la, mas também questiona os leitores do Evangelho. O evangelista utiliza o verbo grego "lalein/falar" que tem profundas ressonâncias proféticas para apresentar a atividade de Jesus.

Em seguida, com uma clássica fórmula de revelação: "Eu sou...", ele quer mostrar a seus leitores a importância decisiva da pessoa de Jesus para o mundo inteiro. É bom lembrar que o lugar onde Jesus pronuncia solenemente esta auto-afirmação é a sala do Tesouro do Templo (8,20). Lá, durante as Festas, eram acesos os grandes candelabros, cuja luz chegava a iluminar toda a cidade de Jerusalém.

Esse ambiente, densamente repleto de ressonâncias messiânicas, é o lugar em que Jesus se declara "luz do mundo". De fato, o motivo da luz, de acordo com as profecias messiânicas, indica felicidade, libertação, alegria: "Levanta, resplandece porque a tua luz vem vindo, a glória de Javé brilha sobre ti" (Is 60,1).

Além disso, por trás dessa afirmação de Jesus, é possível vislumbrar os textos proféticos que se referem ao "Servo de Javé" (Is 49,6: Sim, diz Javé)

"Pouca coisa é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó e reconduzires os sobreviventes de Israel. Também te estabeleci como luz das nações, a fim de que a minha salvação chegue até as extremidades da terra"; cfr. Is 42,6).

Esses textos que exprimem a missão do "servo" convidam a percorrer o caminho de um novo êxodo que liberta da treva e da opressão. Por isso eles ajudam a compreender que também a missão de Jesus não se reduz ao povo de Israel, mas está totalmente aberta para o mundo das nações.

Por esse motivo, Jesus convida a percorrer o mesmo caminho e acrescenta, logo em seguida, uma expressão não menos significativa do que a primeira:
"Quem me segue não andará na treva, mas terá a luz da vida". A dimensão universal da "luz" tem sua incidência concreta na experiência humana, também universal (a expressão quem me segue é singular, mas indica totalidade), revelando a necessidade de uma decisão pessoal.

Está em jogo o sentido da história: quem acolhe a luz encontra efetivamente o caminho da vida, e o caminho certo é aquele do "seguimento". Vale lembrar que seja a "luz" seja a "treva" possuem dimensões universais (cfr 1,5) bem como muitos outros contrastes do evangelho de João (vida-morte, verdade-mentira, espírito-carne, etc.).

No entanto, esses contrastes não são fruto da fantasia, mas surgem da experiência humana, porque é lá que é preciso decidir se enveredar pelo caminho da luz, do projeto de Deus e da vida, ou se percorrer o caminho dos projetos humanos auto-referenciais. Não há outra escolha senão entre dois caminhos: auto-suficiência humana e gratuidade divina.

Para o evangelista, todo ser humano realiza suas escolhas dentro do horizonte da história humana, assim como Jesus se manifesta como "luz do mundo" em sua própria humanidade. De fato, é muito significativo observar que o símbolo da luz ocorre só nos primeiros 12 capítulos e é quase sempre aplicado a Jesus em sua realidade histórica.

Portanto, ainda hoje, numa história repleta de ambigüidades, a decisão do "seguimento" não só obtém a luz da vida, mas revela ao mesmo tempo uma formidável dose de otimismo: a luz e a treva continuam se opondo como outrora, mas a Luz, no fim das contas, acaba resplandecendo gratuitamente para todos. Isso faz pensar e muito!

Autor: Sérgio Bradanini
www.pime.org.br



 
 
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