O ambiente cultural contemporâneo, que alguns chamam de pós-moderno, enaltece e difunde o individualismo, o hedonismo, o consumismo e uma busca frenética da felicidade a ser alcançada obrigatoriamente a qualquer custo. Todos esses aspectos do nosso mundo atual que, de certa forma, moram dentro da nossa vida cotidiana e de seus anseios, revelam do outro lado a situação de um ser humano que, de acordo com determinado pensamento filosófico, experimenta uma 'solidão radical'. Todavia, mesmo dentro de um processo contínuo e irreversível de transformação entre a globalização e a complexificação, ainda emergem as velhas e sempre novas questões do pluralismo e da crise do sujeito, da verdade e da crise da razão, da fragmentação do saber e da perda do sentido da vida.
A tudo isso pode ser acrescentado um dos aspectos mais inquietantes da nossa cultura atual: o 'opinionismo'. Com efeito, hoje, fala-se de tudo, mas sem pensar. Quando muito, ouve-se falar de pensamento débil/fraco, de pensamento único, de pensamento vazio ou até de pensamento estéril. Entretanto, as questões mais vitais e significativas da vida humana no que diz respeito à verdade, aos valores da justiça e da solidariedade e às sérias questões da ética, continuam sendo empurradas para o segundo plano.
Também os anseios mais profundos parecem esgotar-se no reino do imediatismo. Então, pode ser oportuno lembrar a mensagem para o dia mundial da paz, que convida a retomar a reflexão da Encíclica "Pacem in Terris" do papa João XXIII (1963), estruturada basicamente sobre quatro exigências essenciais: verdade, justiça, amor e liberdade. A respeito da primeira exigência para uma autêntica construção da paz, João Paulo II afirma: "A verdade será o fundamento da paz se cada indivíduo tomar consciência não só dos próprios direitos, mas também dos seus deveres para com os outros".
Não é de hoje que o termo "verdade" está colocado abertamente sob suspeita, pois pode suscitar as mais variadas reações de ceticismo, de mal-estar ou até de indiferença. Além disso, para muitos não existe a "verdade", mas existem tantas "verdades" quantas são as culturas, as pessoas ou os interesses de cada um.
Tudo isso não representa nenhuma novidade, pois por trás dessa questão aparece a famosa pergunta que Pilatos dirigiu a Jesus: "O que é a verdade?" (Jo 18,38). Jesus não respondeu à pergunta e preferiu ficar calado diante de quem colocou a 'verdade' no âmbito da insignificância. É notório que o evangelista João gosta de usar palavras que têm um duplo sentido.
Com efeito, a noção comum que se tem da 'verdade' indica um pensamento ou uma palavra que corresponde à realidade, ou então indica a própria realidade que se manifesta de forma clara à inteligência (em grego o termo a-létheia significa "não oculto/ não esquecido"). A noção bíblica é diferente porque ela se baseia na experiência religiosa do encontro com Deus. "Verdade" indica fundamentalmente o que é sólido, firme, seguro e digno de confiança. No AT indica, antes de tudo, a atitude de fidelidade à Aliança e, no NT, sobretudo em João, indica a plenitude do projeto de Deus que alcança sua suprema realização em Cristo.
Nesse contexto, não só a "verdade", mas também as outras exigências, representam um grande desafio, porque se trata de dimensões que ninguém possui de uma vez por todas, mas continuam sendo objeto de busca. Se uma paz verdadeira (Jr 14,13) só pode ser autêntica se for sólida, estável e duradoura, do mesmo modo, a vida humana só pode ser autêntica se enfrentar corajosamente o desafio de sair de sua solidão radical para entrar na aventura de um verdadeiro relacionamento solidário, onde encontra a plenitude de sentido.
Autor: Sergio Bradanini
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