Por trás de todos os acontecimentos atuais, é possível notar a existência de um desejo profundo de reduzir ou de eliminar aquelas distâncias que representam uma real ameaça para um mundo globalizado sem limites.
A redução das distâncias, porém, não cria automati-camente uma aproximação entre as pessoas: isso pode facilitar contatos, mas não cria uma "comunhão". A distância entre as pessoas não pode ser medida em termos de tempo e de espaço, mas em termos de "relações": de silêncio ou de comunicação, de envolvimento recíproco ou de indiferença.
Com efeito, a globalização coloca o mundo inteiro ao nosso alcance, mas, ao mesmo tempo, nos torna inacessíveis a quem mora ao lado. Os meios que "desejam" superar as distâncias de tempo e de espaço acabam gerando, em sentido contrário, uma distância enorme e horrível em termos de 'relações'. Além disso, no âmbito literário, é possível notar uma proliferação interminável de documentos e de textos que expressam o desejo de paz e de justiça, de convivência e de tolerância. No entanto, praticamente, o mundo, em geral, está cada vez mais inseguro e menos em paz, está se tornando cada vez mais violento e sempre menos misericordioso.
De um lado, temos a cultura globalizada que chega a considerar o mundo como um produto da tecnologia, e, do outro, a nossa experiência nos diz que o relacionamento humano não pode ser pura e simplesmente um produto de técnicas, de competências ou de programações. Ele é "fruto maduro" de encontro entre sujeitos livres que são capazes de cumprir a justiça, de buscar a verdade, de estabelecer e forjar relações de fraternidade! Tudo isso é possível para quem busca uma comunhão de vida que saiba unir a experiência de Deus e a fadiga da história, as coisas do céu e a paixão pela terra!
Na tradição bíblica, há uma página esplêndida que ilumina profundamente essa dimensão tão antiga e, ao mesmo tempo, tão atual. O texto de Isaías 54,1-10 não só aponta o caminho do povo de Israel, ainda dilacerado pela dor do exílio, para alcançar sua restauração, mas fornece também indicações concretas a respeito de sua missão que consiste em acolher o dom renovado da Aliança e em ser testemunha dessa comunhão de vida, partilhando-a com as outras nações.
Salta aos olhos o clima de entusiasmo e de alegria que nasce da experiência dramática do exílio e expressa o seu desejo de redenção. O alvo é a restauração da cidade de Jerusalém, entendida como centro vital de todo o povo. De fato, é a cidade de Jerusalém que recebe o convite para dilatar-se a ponto de envolver também as nações (54,3), deixando bem claro que a fonte dessa missão é Javé, que, de certa forma, 'se dilata' juntamente com ela (basta notar a seqüência de títulos: Esposo - Criador - Javé dos exércitos é o seu nome - Redentor - Santo de Israel - Deus de toda a terra será chamado: 54,5).
Isso quer dizer que uma das primeiras dimensões de toda missão consiste em tornar conhecido entre as nações o "nome de Javé", o Deus da Aliança. Todo o sofrimento do exílio reduz-se a "pouco tempo" (54,7) ou a um simples "momento" (54,8), diante da imensa e sublime fidelidade de Javé. Por intensa e prolongada que seja, nenhuma dor é eterna! De "eterno" só existe o amor e a misericórdia de Javé!
Com efeito, o profeta, retomando a linguagem de Oséias e de Jeremias, alcança uma das mais altas e significativas expressões no que diz respeito ao amor gratuito, eficaz e permanentemente fiel de Javé para com o seu povo: "Os montes poderão ser removidos, as colinas poderão vacilar, mas o meu amor não será removido de ti, e a aliança da minha paz não vacilará, diz quem se compadece de ti, Javé" (54,10). O plano inabalável da Aliança domina universalmente toda a história humana e tem seu ponto culminante no fim dos tempos. A missão realiza-se, transmitindo a todos esse "desejo de comunhão", de forma autêntica, gratuita e fiel.
Autor: Sergio Bradanini
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