A degradação da natureza que provoca fundados temores de um eventual desastre ecológico e a multiplicação de conflitos que geram todo tipo de violência são aspectos negativos e sombrios do mundo atual. Do outro lado, o desenvolvimento científico e o crescimento cada vez mais sofistica-do da tecnologia moderna, parecem oferecer um ponto de referência luminoso e otimista para o futuro do mundo.
Embora de forma extremamente simplificada, estas perspectivas mostram que a humanidade, hoje, parece estar suspensa entre a visão de um maravilhoso desenvolvimento científi-co e tecnológico que deveria alcançar uma situ-ação de bem-estar para todos, e a visão de uma progressiva e inevitável decadência que carrega
em seu bojo terríveis ameaças de uma catástrofe sem precedentes.
Que sentido tem então, nesse contexto, falar de salvação? O que espera o mundo atual: uma positiva e progressiva evolução que envolve todas as nações, ou um processo negativo de deterioração que coloca a humanidade inteira à beira do abismo de uma violência sem fim?
Não é fácil responder a estas perguntas, no entan-to muitas vezes para entender melhor as perspectivas atuais se toma necessário voltar àquelas raízes profundas que através de sua seiva vital, sustentam o caminho da história. E possível encontrar uma dessas raízes na tradição bíblica onde a missão profética se caracteriza e se definea partir do "plano de salvação de Deus", e este plano é universal. Claramente e antes de tudo esta missão é confiada ao povo de Israel. Nunca a Escritura afirma que Israel cumpre esta missão em nome das outras nações, mas muitos profetas anunciam o tempo em que as nações se unem a Israel para juntas "proclamarem os louvores de Javé" (Is. 60,6) Israel tem a missão de ser povo-testemunha para toda a humanidade: sendo o primeiro destinatário do 'plano de salvação' ele tem a tarefa de anuncia-lo aos outros povos: "As minhas testemunhas sois vós - oráculo de Javé - vós sois o servo que eu escolhi" (Is. 43,10).
Especialmente depois da amarga experiência do exílio, Israel toma consciência de que sua missão especifica tem como finalidade o horizonte das nações. Com efeito, nesse sentido, a expressão mais Iúcida e significativa que prepara o caminho de Jesus e da igreja primitiva, é a de Is. 49,6: "Pouca coisa é que sejas meu servo e restabeleças as tribos de Jacó e reconduzas os sobreviventes de Israel. Também eu te estabeleço luz das nações para que a minha salvação chegue até as extremidades da terra".
É interessante notar que a missão do "Servo" é dupla: antes de tudo ele continua sendo o ponto de referência fundamental do seu povo (Jacó/Israel) e em 2.º lugar ele é constituído por iniciativa divina "Luz das nações". Como a luz que se irradia em todas as direções e com a mesma intensidade, assim o "servo" tem a missão de expandir a "salvação de Javé" a todas as nações, indistintamente e sem exclusões.
Não é por acaso que a leitura cristã das Escrituras atribui esta dupla missão a Jesus. Basta lembrar a expressão final da bênção do velho Simeão: 'Luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel" (Lc. 2,32) ou a pregação de Paulo e Barnabé em Antioquia de Pisídia (At. 13,47). Logicamente a missão de Jesus continua na missão dos discípulos e da Igreja. Segundo a perspectiva da historia bíblica, hoje, anunciar a "salvação de Deus" significa lembrar ao mundo e à humanidade que eles estão sob a permanente e inesgotável vontade divina de salvação: "Deus quer que todos os homens sejam salvos" (1Tm. S,4). Dessa forma o mundo com todas as suas tensões e tendências se descobre "morada" da justiça e da paz, e a história de toda a humanidade está aberta para receber de Deus o dom da "salvação".
Autor: Sergio Bradanini
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