Lucas, em sua narrativa, destaca a figura de Pau-lo como mensageiro e testemunha corajosa do Evangelho. Acompanhando o desenvolvimento do texto de At17,16-34, é possível notar a metodologia missionária que ele apresenta.
Antes de tudo, Paulo fica tremendamente ‘irritado’ por causa do ambiente ateniense repleto de ídolos. Ele não quer julgar a realidade, a partir das primeiras impressões, mas muda de atitude: supera a própria irritação e assume uma atitude autêntica de diálogo (o texto frisa este aspecto: “dialogava com todos”, v.17), correndo o risco de ser questionado, mal-entendido e até rejeitado.
Nesse sentido, Lucas deixa bem claro que a aceitação ou a rejeição não acontece só com o mensageiro (Paulo), mas também com a mensagem (Jesus e a ressurreição): mensagem e mensageiro formam uma única realidade. Com isso, Lucas indica uma necessidade radical para a autenticidade e a credibilidade do anúncio cristão: a mensagem do Evangelho deve entrar e transformar, antes de tudo, a vida de seus mensageiros!
Em segundo lugar, Paulo apresenta oficialmente o conteúdo de sua pregação, fundamentando sua atitude de abertura e de diálogo com a cultura grega, não mais a partir das primeiras impressões (tentação que infelizmente persiste até os dias de hoje), mas a partir de uma análise concreta da realidade. Antes de proclamar o Evangelho, o apóstolo analisa a situação, observando atentamente as características culturais (monumentos) para encontrar um horizonte comum de compreensão. Com efeito, ele tem a mesma habilidade de seus interlocutores: mediante a “arte retórica” dos gregos, anuncia a mensagem cristã.
Em seguida, à luz da tradição bíblica e da cultura grega, Paulo evidencia os elementos positivos que são compreensíveis dentro do horizonte comum (vv. 24-29): (1) Deus se manifesta a todos como Criador do universo; (2) toda a humanidade tem sua origem em Deus; (3) todo ser humano busca um caminho para se encontrar com Deus. Depois, revela e critica as deficiências fundamentais da cultura grega: (1) o caráter arrogante e ‘padronizado’ de um ‘saber’ totalitário: quem não entra no esquema fica desqualificado; (2) a pretensão de conhecer todos os deuses, enquanto que o único e verdadeiro Deus permanece ‘desconhecido’; (3) a idéia da ‘imortalidade’ que está por trás dessas pretensões transforma qualquer divindade num ‘objeto’, fruto das mãos ou da imaginação humana!
Finalmente, Paulo convida seus ouvintes, não a mudarem a realidade, mas a assumirem um jeito novo de encará-la! O evento Jesus é o critério de interpretação da história da salvação: (1) o ser humano é a verdadeira imagem de Deus, não os ‘deuses’ que são uma projeção da imaginação humana! (2) Deus é sim o único criador do universo, mas é também Senhor da história que dá sentido à vida de todos; (3) o destino do ser humano encontra o seu sentido definitivo no encontro com Deus, através da morte-ressurreição do “Homem Jesus”, não através da “idéia da imortalidade!”.
É necessário, portanto, reconhecer que a salvação é, ao mesmo tempo, um dom de Deus, através da morte e ressurreição de Jesus, e tarefa humana no intuito de construir uma história em que todos sejam filhos no Filho!
Fora desta perspectiva, o ser humano – como ‘imagem de Deus’– continuaria sendo desfigurado e transformado numa multidão de ídolos! O testemunho de Paulo indica que a novidade absoluta, que muda o sentido e o destino da história humana, traz também uma dimensão de gratuidade absoluta: nenhuma ‘ignorância’ é fatalmente um obstáculo para a salvação, mas também a posse de qualquer ‘sabedoria’ não é nenhuma garantia!
Autor: Sergio Bradanini
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