evando em consideração alguns elementos que a nossa reflexão, embora sumária, revelou a partir do discurso de Paulo no areópago de Atenas, é possível notar que muita coisa ainda não
perdeu sua atualidade.
O ambiente de Atenas, centro da cultura ocidental, que para Lucas foi um lugar privilegiado para apresentar o encontro entre pregação evangélica e cultura grega, continua sendo extremamente desafiador. De fato, o texto de At 17,16-34 provoca uma tomada de consciência a respeito de algumas dificuldades que o processo de evangelização comporta.
Uma dificuldade muito séria surge ao constatar que a cidade de Atenas é praticamente uma “floresta de ídolos”(At 17,16). Este fato provoca em Paulo uma reação de profunda “indignação” porque vê por trás dessa multiplicação de “imagens” uma pretensão de englobar toda a realidade. Movido por esta provocação, Paulo assume, porém, uma atitude de diálogo, correndo o risco até de ser mal-entendido. O problema é muito sério no âmbito da evangelização: como anunciar o Evangelho, em cujo centro está a pessoa concreta de Jesus Cristo, “imagem de Deus” (2Cor. 4,4; Col. 1,15) num ambiente em que já existem imagens demais?
Nossos dias não estão profundamente marcados pela civilização da imagem pela cultura do espetáculo e pela era da representação? O texto bíblico deixa bem claro que, por trás da multiplicação de imagens, existe o perigo de querer representar toda a realidade, e que tudo isso pode gerar um sistema fechado, impermeável diante de qualquer outra novidade, inclusive a do Evangelho. Nem sempre e nem todos têm consciência de que as imagens não são a realidade, que não passam de uma construção dela. Entretanto elas acabam substituindo ou ocupando o lugar da realidade. Além disso, esta realidade reconstruída, geralmente, apresenta-se mais verdadeira do que a realidade vivida. Nesse sentido, a experiência humana tende a desaparecer por trás de sua própria representação. Presos às próprias imagens, nós mesmos como os filósofos gregos, destinatários da pregação de Paulo, corremos seriamente o risco de ficarmos prisioneiros dum sistema de representações que nós mesmos construímos. O resultado desse processo é de uma clareza extrema: o ser humano com sua vida e sua história concreta desaparece totalmente. O que importa afinal é a imagem e não a realidade.
Com as pessoas acontece o mesmo: corre-se o risco de estabelecer uma relação com uma imagem e não com a pessoa real, pois o que interessa não é o que a pessoa realmente é, mas o que ela aparenta. Dessa forma as imagens acabam ocultando ou negando aquela mesma realidade que querem representar. Realmente, a atitude de Paulo é digna de admiração, porque ele tem coragem de superar, antes de tudo, a própria indignação para poder enfrentar o duro e difícil caminho do diálogo, apontando para o centro da realidade: a novidade absoluta da salvação não acontece no mundo das imagens, mas na história concreta de Jesus, o homem das dores (Is 53,3), que não tem absolutamente nada de espetacular (tão desfigurado estava o seu aspecto: Is 52,14).
Não é só o caminho do diálogo que comporta muitas dificuldades, mas também o caminho da vida cotidiana. No entanto, é dentro desse caminho concreto, árduo, difícil e cheio de problemas que a novidade do Evangelho se insere. Também no processo de evangelização, não há o perigo de transformar a pessoa de Jesus de Nazaré numa imagem bem construída para suscitar a atenção em assuntos religiosos, mas que não passa de um produto entre os outros nos templos da idolatria do mercado?
Autor: Sergio Bradanini
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