Na primeira parte da carta (1Ts 1-3), Paulo lembra tudo aquilo que aconteceu em sua missão apostólica ao fundar a comunidade cristã, na segunda parte (1Ts 4-5), apresenta vários elementos de catequese que deveriam fazer progredir a vida cristã da comunidade.
A situação em que ela se encontra não é das melhores, pois, de um lado, surgem exigências éticas radicais em relação ao ambiente pagão e, do outro lado, existem fortes tensões internas que ameaçam a coesão e o crescimento na fé. Paulo intervém, não para corrigir eventuais desvios, mas para fortalecer o caminho já em andamento (4,1).
Quanto à metodologia missionária, não há nada de novo porque encontramos as mesmas referências a esquemas catequéticos decorrentes da tradição bíblica, como acontecia em todas as comunidades primitivas, a partir da Igreja-mãe de Jerusalém. No entanto, o nosso texto apresenta uma novidade: ela é constituída por um "ideal de vida cristã" que exige transformações radicais, principalmente no campo do comportamento ético e moral, da parte de pessoas provenientes de um ambiente pagão, fortemente marcado por uma mentalidade muito permissiva. Paulo oferece algumas instruções para o crescimento da comunidade, destacando duas questões significativas que são o ponto de referência de toda vida cristã: a ressurreição dos mortos (4,13-18) e a vinda do Senhor (5,1-11).
Esses dois elementos adquirem toda a sua profundidade, a partir das exigências éticas da vida familiar (4,3-8) e da vida comunitária (4,9-12; 5,12-22). Na introdução da segunda parte da carta (4,1-2) o termo "exortar" revela uma das funções essenciais de toda atividade missionária. Para Paulo, não se trata de uma simples imposição de regras e preceitos morais, mas de uma dimensão que tem sua própria raiz "no Senhor Jesus" e interpela fortemente os ouvintes.
Nesse sentido, "exortar" significa proclamar de forma autêntica o Evangelho, transmitindo não uma doutrina, mas uma experiência concreta com todas as exigências éticas decorrentes da adesão de fé. De fato, "caminhar para agradar a Deus" (4,1) significa assumir um comportamento moral e espiritual que deve ser concretizado numa comunhão de vida sob todas as formas e com todos (relação familiar, comunitária e com Deus).
Destarte, fica bem clara a dimensão missionária do apóstolo: ele não só funda comunidades cristãs, mas as acompanha em seu crescimento; não só aponta o caminho, mas tem a coragem de percorrer com elas o mesmo caminho exigente da vida cristã! Até a etimologia do termo grego 'exortar', ajuda a entender melhor esta dimensão missionária essencial. Com efeito, "parakaléo" (exortar) significa "chamar ao lado de", para ajudar e socorrer alguém (isso lembra a figura do "Paráclito" nos escritos de são João).
Paulo, realiza a sua missão, "ficando ao lado" da comunidade, alimentando-a com suas instruções, para que ela cresça e chegue à maturidade da fé. Como os antigos profetas, ele não fica satisfeito com uma exposição fria da Palavra de Deus, mas quer alcançar o coração das pessoas, de modo que elas possam viver constantemente na presença divina.
Continuando a tradição profética, o apóstolo não pode anunciar o Evangelho, sem exortar, isto é, sem percorrer, junto com a comunidade, o caminho da fidelidade profunda e corajosa a Deus e aos outros, sobretudo quando a vida e a história manifestam seu lado dramático. João Batista "com muitas exortações evangelizava o povo" (Lc 3,18); o mesmo faz Jesus, radicalizando ainda mais o convite: "convertei-vos e crede no Evangelho" (Mc 1,15). A convicção de Paulo é tão clara que aos coríntios dirá: "É como se Deus exortasse através de nós" (2 Cor 5,20).
Autor: Sergio Bradanini
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