Ser missionário
 
Fadiga e Trabalho
 
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Após ter apresentado a atividade missionária sob os traços da ternura e do carinho materno (1Ts 2,5-8), Paulo, através da figura paterna, quer apresentar a necessidade do crescimento da fé da comunidade cristã (1Ts 2,9-12).

Maternidade e paternidade se realizam plenamente, quando as duas dimensões, juntas, conseguem gerar uma fraternidade de pessoas autenticamente livres. De fato, se a figura materna desempenha a função de alimentar a fé da comunidade, a figura paterna desempenha a função de educar os fiéis para que alcancem realmente "o reino e a glória de Deus" (2,12).

Para desenvolver esta dimensão, Paulo mostra a necessidade de uma atitude ao mesmo tempo exigente e coerente. Com efeito, a expressão "fadiga e trabalho" (2,9) não se refere ao esforço físico, mas evoca a "fadiga do amor" do início da carta (1,3).

No nosso contexto, trata-se de um "amor/ágape" que não se esgota nem nos sentimentos nem na ternura ou carinho tipicamente maternos, mas que exige uma manifestação concreta de maturidade, expressa na fadiga e no esforço rigoroso, que de um lado tem que enfrentar a dureza da atividade missionária e, do outro, a dificuldade de crer e de amar! Por este motivo, a 'fadiga e o trabalho' se exprimem concretamente na vida dos mensageiros que "trabalham dia e noite", com suas próprias mãos, para não serem um fardo pesado para ninguém! Paulo nunca abriu mão disso! Aliás, sempre fez questão de não exigir nada de ninguém, para poder anunciar o Evangelho com a maior gratuidade possível. Basta lembrar a expressão de 2Cor 12,14, para se dar conta que o interesse dele é outro: "...não vos serei pesado, pois não procuro vossos bens, mas vós mesmos!" (cfr. também At 18,3;20,34; 1Cor 4,12).

É importante notar que, para o apóstolo, não é suficiente trabalhar para não ser um fardo para a comunidade, mas é necessário providenciar o próprio sustento, para poder anunciar o Evangelho segundo a lógica da gratuidade. Paulo nunca quis deixar a porta aberta para nenhum tipo de ambigüidade, tinha horror de ser tratado como um mercenário! Por isso, a pregação do Evangelho não exige nada em troca, nem mesmo o alimento (1Co 9). Paulo sabia que, com essa atitude, realizava as antigas tradições bíblicas sintetizadas, de certa forma, pela expressão do salmista: "Viverás do trabalho de tuas mãos" (Sl 128,1-2; cfr.Dt 14,29; 16,15). Ele sabia também que era preciso assumir um comportamento que fosse "puro, justo e irrepreensível" (2,10), comportamento confirmado pela comunidade e pelo próprio Deus: "Vós e Deus sois testemunhas!" (2,10).

Para expressar essa atitude profunda, o apóstolo evidencia, mediante a figura paterna, a árdua tarefa da educação da fé da comunidade. Como um "pai" profundamente envolvido no processo educativo de seus filhos, o missionário "exorta" sua comunidade, mostrando as exigências inerentes à fé; "consola/encoraja" os fiéis para manterem viva a esperança de poder superar temores e angústias ao longo do caminho; e enfim "admoesta" (= testemunha) as pessoas para que tomem uma decisão de fé que seja efetivamente livre e se mantenham fiéis nela. Sem essas atitudes de gratuidade, o "Evangelho de Deus" não pode penetrar no coração das pessoas.

A ternura, o calor humano, a gratuidade aproximam muito mais as pessoas do que todas as teorias e os sistemas mais sofisticados de evangelização. A 'fadiga e o trabalho' apostólico não querem amenizar a dureza da existência humana dos outros, mas querem ser simplesmente um testemunho autêntico da gratuidade do Reino para todos.

Autor: Sergio Bradanini
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