No contexto da multiplicidade de opiniões que circulam livremente no mundo atual, há também quem acredite que uma descrição objetiva dos mecanismos sociais que produzem os males que atormentam a nossa sociedade, seja suficiente para fazer surgir respostas solidárias entre as pessoas. Pessoalmente, penso que isso não passa de um ledo engano.
De fato, é a pessoa humana e não uma pura e simples descrição dos mecanismos sociais que pode gerar a solidariedade necessária para mudar e transformar a sociedade e seus relativos males. A chave de interpretação ainda está no coração humano! O mesmo acontece no que diz respeito ao anúncio cristão: o mensageiro continua sendo a mediação necessária entre o Evangelho e seus destinatários. A "chave de ouro" de toda evangelização continua sendo o testemunho.
No belíssimo texto de 1Ts 2, 5-8, Paulo apresenta as modalidades mediante as quais o testemunho acontece. Antes de tudo, ele assinala três elementos negativos que, de maneira alguma, podem inspirar a atividade missionária: a adulação, a ganância ou desejo de ter mais e a busca de elogios. Trata-se de elementos que, juntos, formam exatamente a negação radical da autenticidade do testemunho. A adulação nasce freqüentemente da mistificação e da mentira, para influenciar alguém de maneira agradável ou para obter dele alguma vantagem.
Os tessalonicenses sabem que os apóstolos anunciaram o Evangelho, mas também denunciaram seus vícios e suas falhas! A ganância, ou literalmente "desejo de ter mais", transforma o mensageiro em mercenário e a mensagem em mercadoria. Nesse caso, não está mais em jogo a gratuidade do Evangelho como oferta de salvação para todos, mas em seu lugar entra o interesse de mercado. Para Paulo, esta questão é de primária importância, pois não é por acaso que ele recorre ao próprio Deus como testemunha. Em 1Cor 9,16-18, insiste sobre a absoluta gratuidade do seu apostolado. Enfim, a busca de elogios acaba enaltecendo a figura do mensageiro em detrimento da mensagem. Este fato seria uma maneira de anunciar tudo, menos o Evangelho, pois a função da testemunha consiste exatamente em anunciar o "Evangelho de Deus" e não em substitui-lo com "o anúncio de si mesmo"!
Descartando esses elementos negativos que representam sempre uma forte tentação para qualquer missionário, Paulo passa a indicar as dimensões mais profundas que são necessárias para a autenticidade de sua missão: o carinho tipicamente materno: "apresentamo-nos no meio de vós amáveis como uma mãe que acaricia seus filhinhos" (v.7) e o calor humano que, além da mensagem do Evangelho, leva também a fazer da própria vida um dom: "Assim enamorados de vós, queríamos comunicar-vos como dom, não só o Evangelho de Deus, mas também as nossas vidas, porque amados, para nós, vos tornastes" (tradução literal do v.8).
Como habitualmente costuma fazer, Paulo renuncia ao direito apostólico de ficar a cargo da comunidade (como dirá logo em seguida em 2,9; cfr. 2Cor 11,9), para evidenciar o aspecto da amabilidade da figura materna que nutre seus filhinhos e cuida deles até que sejam capazes de enfrentar as dificuldades da vida. Paulo não só funda comunidades cristãs, mas também com ternura materna as alimenta e as acompanha até que elas alcancem sua própria maturidade. A prova formidável de autenticidade do testemunho missionário se manifesta quando a própria vida é oferecida em dom aos destinatários! Paulo e companheiros anunciam dando o melhor de seu coração... e para nós fica a lição de que o Evangelho se torna efetivamente eficaz, ao ser comunicado com toda a ternura e o calor humano possível
Autor: Sergio Bradanini
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