Não é necessário falarmos disso, pois eles mesmos contam qual acolhimento que da vossa parte tivemos, e como vos convertestes dos ídolos a Deus, para servirdes ao Deus vivo e verdadeiro, e esperardes dos céus a seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos: Jesus que nos livra da ira futura (1Ts 1,9-10).
Em nossos dias, há quem freqüentemente diga, após longas e demoradas análises sociais e religiosas, que uma das principais características do mundo moderno é o fenômeno do ateísmo, da indiferença religiosa ou do agnosticismo.
Há também quem diga que o ser humano é uma 'formidável máquina que produz ídolos'. Não se trata de saber quem tem ou não tem razão, se o ateísmo ou o politeísmo, mas de notar que as pessoas que se identificam com essas categorias manifestam, geralmente, a tendência a transformar a própria situação num artigo de fé obrigatório para todos. Além do mais, quando não se acredita mais em Deus, isso não significa que não se acredita em nada, mas acaba-se acreditando em tudo, daí a multidão e a variedade de "deuses" produzidos para o próprio uso e consumo!
Se o ambiente em que vivemos manifesta estes aspectos, então temos um motivo a mais para retomarmos o ponto fundamental de referência da Igreja primitiva expresso em 1Ts 1,9-10. Nesse texto, Paulo fala da conversão dos pagãos que abandonaram o culto aos ídolos para se voltarem ao Deus vivo e verdadeiro. Sem dúvida alguma, o apóstolo apresenta uma formulação antiga da fé cristã em que aparece em primeiro plano o kérygma, isto é o anúncio da morte-ressurreição de Jesus (cfr.1Ts 4,14;5,10). Esse anúncio, proclamado por Paulo como acontecimento de salvação, é confirmado, logo adiante, pela expressão "Nós vos proclamamos o kérygma do evangelho de Deus"(1Ts 2,9).
A proclamação desse fato central da fé cristã implica, necessariamente, o apelo à conversão. Trata-se de uma dimensão vital, pois o termo conversão exige uma mudança de conduta ou, até mesmo, uma nova e mais radical orientação de comportamento. Se de um lado significa voltar-se para Deus, do outro lado, exige necessariamente o afastamento dos ídolos. Este fato é mais significativo ainda porque 1Ts1,9-10 é o único texto do kérygma primitivo a mencionar a conversão "ao Deus vivo e verdadeiro", isto é, ao Deus de Israel. Em todo caso, o conteúdo desta proclamação, para Paulo e toda a Igreja primitiva (cfr. At 14,15;26,18), é algo inegociável e indiscutível, representa a condição sem a qual,l não existe mais a fé cristã. Uma vez que o anúncio evangélico é dirigido aos pagãos, é necessário precisar que a fé em Jesus morto e ressuscitado é inseparável da fé no Deus já revelado na experiência religiosa do povo de Israel, como o Deus único e verdadeiro.
Paulo, nesse sentido, mostra sua fidelidade à tradição profético-sapiencial: os ídolos não podem salvar porque, na realidade, não existem, são mentiras, são falsos: "Os ídolos não são nada" (Sl 81,10). Em contraposição, só o Deus da tradição bíblica é verdadeiro e autêntico, ele é o Deus vivo e por isso mesmo é o único que pode dar a vida e ser o salvador da humanidade. O pano de fundo da proclamação evangélica torna-se ainda mais claro, ao lembrarmos que a pregação profética era dirigida às nações pagãs, para que se voltassem para o Deus vivo (Is 45; Jr16,19ss).
Ora, "servir ao Deus vivo e verdadeiro" significa reconhecê-lo como único Senhor. Entretanto, a idolatria, o ateísmo e outras características de ontem e de hoje nunca são superadas de uma vez por todas. Elas renascem continuamente sob diversas formas. Quando se deixa de servir ao único Senhor, surgem e proliferam todos os tipos de outros senhores.
Autor: Sergio Bradanini
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