Na parte final do grande discurso missionário (Mt 10,40-42), o evangelista retoma uma dimensão apresentada anteriormente (10,9-10), frisando, porém, uma nova perspectiva: a atitude dos destinatários diante dos anunciadores do Evangelho. Naturalmente, podemos constatar que aqui a comunhão de vida entre Mestre e discípulos alcança seu ponto culminante. Acolher um mensageiro de Jesus significa acolher o próprio Jesus e acolher a Jesus significa acolher o próprio Deus Pai, origem e fonte de toda missão! O círculo está finalmente completo e termina exatamente onde começou: no Pai.
Neste último texto, os termos acolher e recompensa, repetidos várias vezes, chamam logo a nossa atenção.
Antes de tudo, o termo acolher deve ser compreendido como a atitude necessária por parte de quem recebe uma visita. A pessoa acolhedora manifesta abertamente uma disposição a estabelecer relações novas com o visitante, em nível de reciprocidade. Aplicando essa atitude ao âmbito da pregação do Evangelho, acolher significa ter uma disponibilidade à escuta (Lc 10,16) e aceitar a mensagem do Evangelho que os discípulos anunciam. Sem dúvida, com esse termo, o evangelista dirige um apelo à sua comunidade para que ela seja efetivamente um lugar de acolhida e de reciprocidade para todos. A base e a fonte dessa dimensão eclesial é o amor do Pai, o qual evidentemente "quer que todos os homens sejam salvos" (1Tm. 2,4). Do outro lado, se o anúncio do Evangelho exige pobreza de meios e muita coragem por parte dos discípulos, exige também uma opção corajosa e plenamente livre dos destinatários. E isso não é fácil.
Para iluminar esta situação crítica, pois - como foi visto acima - o anúncio da Palavra provoca divisão na humanidade, na família e no coração de cada um, o evangelista utiliza três categorias existentes em sua comunidade: profetas, justos e pequenos. Cada um, que pertence a essas categorias, deve ser acolhido assim como ele é, sem mais nem menos, principalmente levando em consideração a relação que cada um vive com Jesus.
Segundo a tradição bíblica, profeta designa uma pessoa inteiramente dedicada à Palavra de Deus: dela se alimenta e vive, por ela é capaz de morrer. Para Mateus, todo pregador da Palavra do Evangelho deve desempenhar a mesma função.
O termo justo, levando em consideração o contexto mais amplo do Evangelho, chega a indicar para Mateus o escriba cristão, o qual, mediante sua conduta e exemplo, ensina e transmite a justiça expressa nas Escrituras (vontade de Deus).
Enfim, a expressão um desses pequeninos indica que qualquer membro da comunidade eclesial pode e deve ser reconhecido na qualidade de discípulo de Jesus. Não pode haver relações privilegiadas entre os membros da comunidade e Jesus, pois todos encontram sua identidade na pessoa do Mestre.
O termo recompensa, não indica um pagamento por algum serviço prestado. É preciso lembrar que estamos no contexto de uma visita, onde as relações são determinadas pela atitude de gratuidade e de uma possível comunhão de vida na reciprocidade. Um eventual contexto de relações econômicas está, portanto, excluído, pelo simples fato de que a recompensa faz parte da promessa divina, cujo conteúdo essencial é o dom da vida eterna.
Um gesto tão simples, como oferecer um copo de água a qualquer um dos membros da comunidade - pelo fato de ser discípulo - se for realizado gratuitamente, leva ao encontro com o Pai.
Mateus 10,40-42
40 "Quem vos recebe, a mim recebe. E quem me recebe, recebe aquele que me enviou.
41 Aquele que recebe um profeta, na qualidade de profeta, receberá uma recompensa de profeta. Aquele que recebe um justo, na qualidade de justo, receberá uma recompensa de justo.
42 Todo aquele que der ainda que seja somente um copo de água fresca a um destes pequeninos, porque é meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá sua recompensa".
Autor: Sergio Bradanini
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