Ser missionário
 
As dificuldades "Por causa do nome"
 
Leia os outros artigos
 

A missão de proclamar a Paz do Reino não é trabalho para quem busca a realização de sonhos triunfalistas, mas é tarefa para quem encara as dificuldades com profundo realismo. Por esta razão, após ter apresentado aos discípulos as possibilidades de uma rejeição da Paz oferecida (Mt 10,13-14), Jesus com um realismo impressionante, mostra que a missão apostólica é uma realidade terrivelmente perturbadora.

Em poucas palavras, o evangelista (Mt 10,17-23) mostra que se trata de algo que incomoda a todos, desde o âmbito público (10,17-18: tribunais e sinagogas dos judeus; governadores e reis dos pagãos), até o âmbito familiar mais íntimo (10,21: irmão contra irmão, pai contra filho, pais contra filhos).

As perspectivas, as dificuldades e os perigos que Jesus apresenta a seus discípulos parecem formar um quadro um tanto tenebroso e sombrio: processos, flagelações e muito ódio... é preciso ter efetivamente motivações bem profundas e, naturalmente, muita coragem para enfrentar uma situação dessas! No entanto, para a comunidade de Mateus, todas essas dificuldades e problemas inerentes à missão, são considerados como uma realidade normal e cotidiana. Ninguém deve cair na ilusão de que a missão apostólica seja fácil nem deve se deixar levar por passageiros entusiasmos. Por isso, o discípulo deve considerar a própria vida à luz da vida e da missão de Jesus. O dia em que ele se esquecer disso, vai ter que lidar com amargas decepções.

No entanto, ao se dar conta de que as dificuldades e perseguições acontecem não por qualquer motivo, mas "por causa do nome de Jesus", ele acaba percebendo que tudo isso não é sinal de fracasso, mas é a condição fundamental da verdade e da autenticidade de sua missão.

O mundo em geral (judeus e pagãos) sente-se radicalmente questionado pela proclamação da Paz do Reino e reage violentamente contra seus mensageiros, para salvar suas leis e privilégios religiosos (tribunais e sinagogas judaicas) ou o seu poder social e político (governadores e reis pagãos).

Dentro da perspectiva de Mateus e de sua comunidade, a questão das perseguições não apenas é uma realidade normal que não deve deixar ninguém escandalizado, mas, positivamente, é considerada como sinal de autenticidade evangélica que se transforma em preciosa ocasião de testemunho.

Com efeito, não há nenhum motivo para entrar em pânico ou em desespero: não há espaço nem para o triunfalismo nem para o derrotismo! O que é realmente necessário ter é uma atitude de profunda fidelidade ao Mestre pelos seguintes motivos: em primeiro lugar, as perseguições "por minha causa" estão orientadas para o testemunho (10,18); em segundo lugar, não deve haver nenhuma preocupação do mensageiro em se autodefender: o "Espírito do vosso Pai falará em vós" (10,20); em terceiro lugar, é necessária a "perseverança" para, enfim, "ser salvo" (10,22). Qualquer atitude que leve a um falso heroísmo não é permitida de jeito nenhum (10,23): a fuga de uma cidade para outra não é interpretada por Jesus como um ato de covardia, mas como uma forma de prudência e nova ocasião de testemunho. Há sempre outras cidades que esperam a proclamação do Reino!

A idéia global desse texto de Mateus mostra que a missão exige, em qualquer circunstância, mesmo a mais difícil, que a mensagem do Reino ocupe sempre o primeiro lugar (está acima da vida do mensageiro) e que a proclamação do Evangelho seja mais importante que o "martírio" (está acima da morte do mensageiro). Os missionários devem, portanto, continuar sua vida itinerante, não podendo parar numa cidade nem sequer para sofrer "uma morte gloriosa"...

Autor: Sergio Bradanini
www.pime.org.br



 
 
xm732