Ser missionário
 
Rogai ao Senhor da colheita
 
Leia os outros artigos
 

Em sintonia com o Projeto Rumo ao Novo Milênio, este novo espaço aberto quer apresentar por etapas (de modo que no fim seja possível ter uma visão de conjunto) e com muita simplicidade, algumas reflexões e questionamentos a respeito da missão, a partir do evangelho de Mateus.

Nada melhor do que levar em consideração o texto de Mt 9,35-11,1 em que o evangelista trata da questão, apresentando, num solene discurso, as características essenciais da figura do missionário.

Trata-se do segundo dos cinco grandes discursos que marcam o ritmo do evangelho de Mateus. (Pressupõe-se a leitura de alguma introdução a este evangelho).

Este é o menos conhecido de todos. No entanto, para a nossa finalidade o discurso missionário de Mateus é extremamente importante para redescobrirmos certas dimensões da missão que, muitas vezes, ficam um tanto na sombra. É claro que, como em todos os outros discursos, o tema central é o Reino dos Céus, mas aqui se trata do Reino, assim como deve ser anunciado ao mundo pelos discípulos (Igreja toda), expressamente enviados por Jesus.

Podemos então iniciar a primeira etapa, lendo o texto de Mt 9,35-38. É possível notar logo que o evangelista apresenta um resumo da missão de Jesus (cfr. Mt 4,23), o qual, após ter proclamado por palavras (Mt 5-7) e atos (Mt 8-9), o Reino dos Céus, agora quer associar seus discípulos à sua própria missão.

Um elemento salta aos olhos: o evangelista quer deixar claro que a figura do Pai é importantíssima no âmbito da missão. Com efeito, é a ele que devem ser dirigidas as orações e súplicas (Mt 9,37-38), não só porque ele está na origem de toda missão, mas, principalmente, porque ele está envolvido na história humana e quer oferecer a todos a salvação. Por este motivo fundamental, o Pai toma a iniciativa da missão, enviando seu Filho Jesus. Esta dimensão paterna aparece claramente na atividade pública de Jesus (Mt 9,35), mas, sobretudo, na sua compaixão (Mt 9,36), diante da necessidade e da miséria das multidões (=humanidade). Com efeito, a imagem das ovelhas sem pastor é tirada da história bíblica (cfr. Nm 27,17; 1Rs 22,17), para mostrar o envolvimento e a solicitude divina em relação a seu povo. Pode-se dizer então que, se a missão nasce da compaixão de Jesus que revela o amor do Pai para com todos os seus filhos, ela deve terminar no amor de todos os filhos para com o Pai e entre si. Isso, porém, não é tão simples como poderia aparecer.

De fato, diante da constatação de que a colheita é grande, mas poucos os operários, Jesus indica a seus discípulos a primeira atitude necessária para a missão: Rogai ao Senhor da colheita, que envie operários para a sua colheita (Mt 9,37-38), pois existe uma grande desproporção entre a grandeza da colheita e a escassez de operários. Trata-se de uma situação que pode suscitar duas tentações: a primeira nos levaria a fazer uma campanha para arrebanharmos operários; a segunda nos levaria a lançar mão de todas as energias possíveis para realizarmos o trabalho. No entanto, Mateus afirma que o importante não é fazer, mas rezar: a comunhão com o Pai, na oração, é a fonte da missão eclesial, é o primeiro e o mais eficaz instrumento apostólico.

Será que diante das dificuldades e das misérias da humanidade, é suficiente rezar? É claro que não! Aqui o evangelista quer simplesmente evidenciar o fato de que o Pai é e continua sendo sempre o Senhor da colheita (Mt 9,38); os discípulos e a Igreja serão sempre só servos/operários. A oração é fonte que ilumina e exige a atividade missionária, como veremos em seguida.

Autor: Sergio Bradanini
www.pime.org.br



 
 
xm732