Campanha da Fraternidade vivida na Quaresma |
Por: Dom Eduardo Koaik
Bispo Emérito de Piracicaba |
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As pessoas com deficiência esperam muito de nós, cristãos e sociedade, nesta 42ª Campanha da Fraternidade (CF). Toda campanha refere-se a um tempo certo com princípio e fim. Não significa, porém, viver a fraternidade somente durante o limite desse tempo, mas este é um período de intenso aprendizado com o objetivo de chamar a atenção para um aspecto importante da nossa convivência com as pessoas com deficiência.
A CF 2006 quer nos mostrar que não se pode faltar com elas, de modo especial, com relação à partilha de amor traduzida em fraternidade. Envolve a compaixão despertada pela indignação por causa da exclusão a que estão sujeitas.
A indignação sozinha é ineficaz, mas quando brota da compaixão faz milagre e empenha ao compromisso social. O egoísta, fechado em si, ao ver o sofrimento do próximo não o sente próximo. No lugar da compaixão é movido a sentir pena, o que o impede de ajudar o necessitado. Seu olhar de cima vê os excluídos lá embaixo.
É a compaixão que nos faz descer até eles e nos identificar com sua dor. Jesus Cristo "era de condição divina, mas não se apegou à sua igualdade com Deus, esvaziou-se a si mesmo, apresentando-se como simples homem" (Fil 2,6-7) e ao identificar-se conosco, nascendo da nossa carne humana e entrando na nossa história, "ao ver as multidões encheu-se de compaixão por elas." (Mt 9,36).
Quando vier na sua glória, com todos os povos da terra reunidos diante dele, dirá aos que praticaram a misericórdia:
"O que vocês fizeram aos meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizeram" (Mt 25,40).
A distância entre Deus e nós, infinita que é, foi vencida pelo amor que fez do seu Filho unigênito "igual a nós em tudo, exceto no pecado". A falta de amor entre os seres humanos cria entre nós uma distância cuja medida é estabelecida por força de preconceitos.
Ernest Einstein, mais do que pela descoberta da teoria da relatividade, merece ser chamado de sábio por nos ter desvelado que "é mais fácil desagregar o átomo que o preconceito". Penso que seja uma evidência: a energia de amor a liberar-se da desagregação do preconceito tem o poder de tornar o mundo mais fraterno.
Quaresma é o tempo propício para purificar em nós a vivência da fraternidade. Ela é sempre igual no seu significado e diferente, a cada ano, na proposta da Campanha da Fraternidade.
O caminho a percorrer-se, neste tempo, é o mesmo de Jesus Cristo ao ser conduzido ao deserto pelo Espírito Santo para combater as tentações do ter, do poder e do prestígio. São elas que minam e, se vitoriosas, destroem a fraternidade. Importante deixarmos nos conduzir pelo Espírito Santo através do caminho do deserto de nossas carências em vista de uma vida digna de filhos de Deus — o amor, a justiça e a paz — por onde alcançamos a alegria da Páscoa: vida nova em Cristo.
A Campanha da Fraternidade, este ano, desfralda seu lema com a "palavra de ordem" de Jesus Cristo: Levanta-te, vem para o meio! (Mc 3, 3). É como se estivesse a dizer: "Não te deixes marginalizar, vem para o convívio da sociedade." Esta palavra de Poder Divino é forte incentivo para nos solidarizarmos para com as pessoas com deficiência na reivindicação que fazem visando o acesso público à vida comum de qualquer cidadão. Deve valer como apoio concreto a ser dado, de modo generoso e gratuito, às suas entidades específicas.
Concluo com as palavras de João Paulo 2°, de saudosa memória, no Congresso Internacional sobre a dignidade e direitos de pessoas com deficiência, que expressam não só o ensinamento da Igreja como ainda a experiência que viveu ao longo do seu pontificado: "As pessoas com deficiência, revelando a fragilidade radical da condição humana, são uma expressão de sofrimento neste mundo. Elas são ícones vivos do Filho Crucificado e revelam a beleza misericordiosa daquele que se despojou por nós e se fez obediente até a morte".
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