Com a palavra...
 
Santo Antônio - Sabedoria e coragem
Por: Dom Eduardo Koaik
Bispo Emérito de Piracicaba
 
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No dia 13 de junho, a Igreja celebra a festa de Santo Antônio, um dos santos mais populares.

Antônio, "o santo". Assim carinhosamente o chamam seus devotos por toda a Itália, sobretudo em Pádua, cidade que escolheu como seu último lar. Na boca do povo, basta pronunciar "il santo" e todos entendem de quem se trata. Não é título hierárquico, nem honorífico. Estes se tornam, facilmente, um perigo para satisfazer vaidades. Ser santo é a mais sublime vocação da vida humana. Não há quem dela seja excluído no pensamento de Deus. Excluído se faz somente quem não aceita o chamado.

A vida de Antônio não foi além dos 36 anos. Com pouco tempo de vida realizou muito pelo reino de Deus. Nasceu de uma família exemplarmente cristã. Aos 15 anos despertara para a vida religiosa, atendendo, generosamente, ao convite de Jesus. Tempos depois, já no mosteiro agostiniano de Coimbra, seu amor ao próximo radicalizou-se através de dois gestos concretos.

Primeiramente, a troca de hábitos, deixando o de monge e vestindo o de frade franciscano. Expressava assim sua opção de amor por aqueles pobres que mendigavam as sobras dos lautos banquetes dos ricos nos arredores de Coimbra. Nessa oportunidade, muda o nome de Fernando, recebido no batismo, para Antônio.

Mas seu amor ao próximo o fez enxergar, principalmente, os pobres que mendigavam a fé e parte, então, como missionário, para a África. E de Portugal para o mundo. A providência divina não o quis em Marrocos, onde, vítima de uma epidemia, adoeceu. Não o quis também de volta à pátria. É quando inicia sua vida missionária a estender-se pela Itália e França.

Nesse tempo, conheceu de perto Francisco de Assis: dois santos diferentes que se completam. Ambos nascidos de famílias ricas: Francisco, filho de rico comerciante; Antônio, de família nobre. Ambos abandonam a vida que lhes garantiria um futuro de glórias mundanas e seguem o impulso do Espírito de Cristo que os unge e os envia a evangelizar os pobres. Francisco apaixona-se pelo crucificado; Antônio, pela palavra de Deus. Ambos sentem-se chamados a transformar o mundo.

Penso que três grandes ideias dominam a pregação de Antônio. Antes de tudo, pregara o evangelho da paz: a paz dos corações que nasce da verdade; a paz na família, cuja fonte é o amor; a paz na sociedade, fruto da justiça. Outra idéia que sempre volta em seus sermões: a reforma dos costumes. Ousadia e veemência não lhe faltam ao denunciar os escândalos provocados pêlos homens públicos de seu tempo e muitos deles chegaram a manifestar sinais de conversão.

Pregadores com a santidade de Antônio não podem se calar nos dias de hoje face ao deplorável comportamento ético na vida pública e ao desrespeito dos valores morais que fundamentam a dignidade humana. Por fim, outro tema predileto do nosso santo: a defesa dos pobres. Fez-se companheiro do "Poverello" com o propósito de testemunhar com o exemplo mais do que com a palavra seu amor por aqueles aos quais Jesus Cristo manifestara sua predileção. Pobre, no seguimento do evangelho, é quem renúncia ao egoísmo e vive a prática da partilha e solidariedade com os que se tornam pobres por causa do egoísmo dos que buscam, em tudo, seu próprio interesse. Santo Antônio quer realmente de seus devotos que cresçam na fome do pão da justiça.

Sabedoria e coragem são as marcas da sua pregação, haurida no estudo orante da Sagrada Escritura. Por essa razão, a Igreja lhe conferiu, por Pio 12, o significativo título de "doutor evangélico".

Mas a razão da sua grande popularidade se explica, muito mais, pela expressão do papa Paulo 6° que o chamou de "um santo cortês": sabe acolher, atrair e ganhar confiança. Sua imagem, nos altares de nossas igrejas, bem o retraía: figura de jovem, olhar sereno, hábito franciscano, Bíblia na mão e o Menino Jesus nos braços. Ele continua a ser, no céu, junto de Deus, o que foi, na terra, entre os homens: sempre cortês.



 
 
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