Trata-se de um pequeno conjunto de cinco poemas, em estilo elegíaco, provavelmente escritos após a queda e destruição de Jerusalém por Nabucodonosor (587-586 a.C.). A tradição tem-no atribuído ao profeta Jeremias. No entanto, essa autoria tem pouca consistência, uma vez que tal atribuição se fundamenta em 2 Cr 35,25 e esse texto diz respeito à morte do último grande rei de Judá, Josias, nada tendo propriamente a ver com o conteúdo deste escrito. Além disso, em 2,9 diz-se que "aos profetas são recusadas as visões", o que seria estranho na boca de Jeremias. A Bíblia Hebraica coloca ainda este livro entre os Escritos, depois do Cântico dos Cânticos, e não entre os Profetas. Deve tratar-se, pois, de um discípulo de Jeremias que guarda algumas afinidades de estilo com o seu mestre.
O título desta obra é a tradução do hebraico "qinôt", que já se encontra no "Talmud" (Hag 5b fala do LIVRO DAS LAMENTAÇÕES: "Sefer Qinôt") e em outros escritos rabínicos (por exemplo, o grande "Midrash Rabbá", em "Lamentações Rabbá" IV,20); e também do grego "thrénoi", que expressa o mesmo sentido.
Para além de outras particularidades, os quatro primeiros poemas são alfabéticos, iniciando-se cada estrofe com a respectiva letra da sequência do alfabeto hebraico. É um processo literário complexo; além da arte e mestria do autor, pretende também realçar o simbolismo do texto e, provavelmente, o ritmo do seu próprio canto.
MENSAGEM O autor lamenta-se da situação miserável em que o povo de Israel e as suas instituições se encontram; e fala da humilhação extrema a que chegaram Israel e Jerusalém. Tudo isto, como consequência do mau proceder do povo e da sua infidelidade à Aliança.
A situação é interpretada à luz da fé como um castigo e como um tempo de purificação, dado haver uma esperança última de que Deus voltará o seu olhar clemente para o povo (fim da 5.ª Lamentação).
Por tudo isso, tanto judeus como cristãos fazem uso destes poemas na liturgia, em momentos significativos da sua História: os judeus, nas festas de jejum, em que recordam a destruição de Jerusalém, no ano 70, pelos romanos; os cristãos, na liturgia da Semana Santa, ao recordarem os sofrimentos da Paixão de Cristo.
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