Especial - A Bíblia
 
Gênesis = Paraíso: mito ou realidade?
Enviado por: Eldécio Luiz da Silva
Cursando Teologia no Seminário Diocesano Nossa Senhora do Rosário
Diocese de Caratinga do regional Leste II Paróquia Divino - MG.
 
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GÊNESIS é uma palavra grega que significa nascimento, origem. O primeiro livro da Bíblia foi chamado assim porque nele encontramos as narrativas sobre as origens do mundo, da humanidade e do povo de Deus.

Poderíamos pensar que essas narrativas são histórias no sentido atual daquilo que o historiador faz. São antes reflexões do povo sobre suas origens e a origem das coisas. Fazendo isso, porém, o povo mantém um olho na sua realidade presente e outro no passado. O que vê aqui e agora, ele projeta no passado distante em até na origem. Seu interesse não é tanto dar uma explicação científica ou histórica sobre o passado, mas contar o passado para explicar a realidade que se vive no presente.

Embora não seja história propriamente dita, devemos dizer que o seu conteúdo é muito mais profundo, pois busca analisar o que acontece no mais profundo da história e da vida.

Podemos distinguir duas grandes partes neste livro. A primeira, formada pelos capítulos de 1 a 11 tem aspecto geral e visa mostrar as origens do mundo, da vida e do processo da história da humanidade dominada pela ambigüidade. A segunda é formada pelos capítulos 12 a 50, onde vamos encontrar conjunto de narrativas populares sobre as raízes distantes e obscuras da história do povo de Deus e também a vida dos patriarcas que subdivide-se em três ciclos de relato: Abraão (12 – 50), Isaac e sobretudo Jacó (26 – 36), e José (37 – 50).

O autor que escreveu vive centenas de milhares de anos depois dos acontecimentos. Ele não está interessado no passado enquanto passado, mas sim na situação que está vivendo no seu tempo. Alguma coisa não funciona. O futuro corre perigo, algo deve ser feito. Este é o problema que o preocupa e que o levou a escrever. É profundamente realista.

A intenção do autor pode ser resumida assim:

- percebe a situação desastrosa e denuncia o mal.

- não fica só na denuncia genérica, mas aponta responsabilidades.

- quer conscientizar.

- quer despertar para uma ação concreta.

- desperta a vontade de lutar e de resistir contra o mal.

O autor percebe o mal de acordo com sua cultura, seu nível de consciência e sua sensibilidade.

Ele não sabe como deveria ser o mundo, mas sabe que ele não deve ser como ele estava. E o mundo está assim é porque a humanidade, instigada pela serpente, comeu o fruto proibido.

Comer o fruto proibido é ir contra a Lei de Deus, a serpente é o símbolo da religião Cananéia, que era uma religião agradável com o culto ritual do sexo, sem compromisso ético, apenas exigências de colocação de ritos.

Esta era a grande tentação que aliciava o povo a refugiar-se no rito fácil e abandonar as exigências duras da Lei. Nisto se concretizava, no tempo do autor, a raiz do pecado do povo.

O autor quer levar as pessoas a tomarem consciência e fazer com que elas sigam outro caminho: o caminho da vida.

Em relação a criação do mundo em 7 dias, está relacionado a um costume sacerdotal de preservar a identidade dos exilados.

Diante da leitura deste livro surgem algumas perguntas: É mito ou realidade, é histórico ou pura imaginação?

É realidade enquanto trata do destino da humanidade, é mito enquanto o autor usou linguagem e imagens míticas de seu tempo, para exprimir e transmitir essa realidade.

Não se deve pensar que tenha existido o paraíso nos termos em que está descrito em Gn 2, 4-25. O que existiu, e ainda existe, é a possibilidade de o homem realizar a perfeita harmonia e paz, quando se deixa guiar pela luz e força de Deus.

“Por que Deus não deu outra chance a Adão e Eva?” Ele continua dando essa chance hoje a todos nós. O paraíso existirá e se tornará “histórico” quando nós o quisermos e por ele trabalharmos.

Em linhas gerais podemos dizer que o Paraíso Terrestre é uma confissão pública, um manifesto de resistência, um grito de esperança, um apelo a transformação do mundo.



 
 
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