Liturgia Dominical
4º Domingo do Tempo Comum - B
Por: Padre Wagner Augusto Portugal
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"Salvai-nos, Senhor nosso Deus, reuni vossos filhos dispersos pelo mundo, para que celebremos o vosso santo nome e nos gloriemos em vosso louvor" (Sl 105,47)


Meus queridos irmãos,

O Livro do Deuteronômio, que surgiu com a reforma religiosa de Josias, em 620 a.C., faz uma recapitulação da Lei de Moisés. Comporta uma espécie de definição do que deve ser um profeta. O profeta deve ser como Moisés, que escuta a palavra de Deus, que coloca suas palavras na boca para transmiti-las, alguém que não fale em nome de Deus o que este não lhe tiver inspirado, nem fale em nome de outros deuses; alguém cujas palavras sejam confirmadas pelos fatos.

A missão de Jesus tem um elemento fundamental: a boa nova, que Jesus nos ensinou e que ele trouxe, alcança todos os espaços da nossa existência, desde o espaço que consagramos para o culto divino – a igreja templo -; até a nossa vida privada e familiar em casa, no trabalho, no lazer, no esporte etc. Seja onde for, a boa nova de Jesus deve estar presente e, de uma maneira muito particular, o sagrado impregna o dia e a noite de quem se faz discípulo de Jesus, como tudo assim foi consagrado para Jesus.

Cafarnaum, a cidade em que Jesus é apresentado como visitante, não era uma cidade muito santa. Marcos, o Evangelista que caminha conosco este ano na busca de demonstrar quem é Jesus e quem é o discípulo, anuncia a universalidade dos locais em que Cristo deve ser manifestado e anunciado. Não é o lugar que santifica o discípulo de Cristo e a sua missão. A mente e o coração devem estar voltados para Deus, fundamental naqueles que se deixam enamorar pelo Cristo. O nosso querer e o nosso agir voltados para Deus, para que busquemos a santidade de vida e a santidade de estado. A santidade acima de tudo e de todos, como nos anunciou hoje o livro do Deuteronômio, quando é proclamado que somos chamados a ser profetas no meio dos irmãos, ou numa linguagem mais pastoral para os dias atuais, somos chamados a nos transformarmos em evangelizadores. O verdadeiro evangelizador vive em todo e em qualquer lugar, em toda e qualquer hora, em todo e qualquer tempo, crendo, adorando, contemplando e servindo o Senhor, quer esteja rezando, quer esteja trabalhando, quer esteja na intimidade de sua casa, quer esteja em logradouros públicos, quer esteja no divertimento.

Caros irmãos,

São Marcos inicia o seu Evangelho(Mc 1,21-28) já afirmando a divindade de Cristo, chamando Jesus de Filho de Deus. Todos reconhecem que Jesus é o Messias, o Enviado por Deus para nos salvar.

Os primeiros a reconhecerem o senhorio do Cristo foram os próprios profetas, particularmente João Batista, o precursor. Assim, no trecho do Evangelho que lemos hoje, os espíritos maus também reconhecem a chegada de Jesus, e confessam que Ele é o “Santo de Deus” (Mc 1, 24) e por isso obedecem ao Salvador (Mc 1,26-27). Portanto, todos, do alto do céu às profundezas do inferno, tomam conhecimento da chegada de Jesus ao mundo, o vêem presente, o reconhecem como Messias, com “o poder de Deus”. E, o povo, dá o prazo mais simples na fé, admirando que Jesus é o Messias (Mc 1,22). Quem passar, com o tempo e a maturidade da fé, da admiração ao amor, do espanto (Mc 1,27) ao seguimento, poderá ser discípulo de Jesus e entrar pela porta estreita que leva ao caminho da vida plena, da vida que nunca se extingue (Mt 7,14).

Dois fatos importantes são salientados pelo Evangelho de hoje: primeiro Jesus mostra seu poder de palavra e em segundo mostra o seu poder sobre a maldade. O duelo entre Deus e Satanás sempre estará presente e, no final, Jesus vencerá o maligno (Jo 16,33). Na nossa vida, todos nós podemos constatar que existe a maldade no mundo. Todos já experimentamos o espírito do mal, agindo contra os homens e mulheres que temem a Deus por causa da calúnia, da injúria, da disputa de poder que muitos, infelizmente, travam na vida.

Como cristãos, desejamos com pio ardor que a maldade não existisse. A maldade, para o escritor sagrado, está em Satanás, anjo caído do céu (Lc 10,18). A doença, embora não seja necessariamente conseqüência da maldade, é sua irmã. Cristo, assim, mostrou poder sobre doenças e maldades e instituiu uma aliança de vida. Jesus veio para que todos pudessem ter vida em abundância (Jo 10, 10).

Enfrentar uma doença ou enfrentar o demônio era a mesma coisa para os conterrâneos de Jesus. E vencer ao demônio e a doença era a manifestação da chegada do Messias. Assim, na história da salvação, também os Apóstolos lutarão contra os demônios e toda a Igreja terá, no combate constante ao mal, uma de suas maiores preocupações. A Igreja que combaterá a perseguição aos seus filhos, que combaterá as superstições, a magia, a idolatria, a feitiçaria, a opressão, a miséria do corpo e da alma, recebeu essa grande missão de Jesus. A construção do Reino de Deus passa pela destruição do pecado, da morte, do diabo e da doença.

Estimados irmãos,

Jesus traz um ensinamento novo. Jesus não pretende abolir as leis. O Reino de Jesus é uma nova maneira de ver o mundo, a história e de viver este reino entre os homens e as mulheres. A novidade de Jesus é o relacionamento trinitário que nos é revelado. A novidade está no amor a Deus. Mas, mais do que amar a Deus sobre todas as coisas, somos convidados a inovar, amando-nos mutuamente. Amor que é perdão dos pecados. Amor que é acolhida dos irmãos e irmãs, particularmente do diferente. Amor que é boa nova, acolhida, misericórdia, reparação, compaixão, comum união de vida e de partilha.

A maldade tem por conseqüência a morte. Entretanto, pelos homens e as mulheres, Jesus venceu a morte e tem em suas mãos as chaves da morte e do inferno (Ap. 1,18). Jesus é o Santo de Deus (Mc 1,24), é o escolhido que procede de Deus e tem poderes divinos. Jesus é Deus entre nós e nos conduz pelo caminho certo que leva à presença e à comunhão com Deus já na vida atual. Esse viver e atuar na presença de Deus é o Reino dos Céus pregado por Jesus.

O povo judeu se admirava com Jesus. A admiração é a mãe da sabedoria. A admiração gera fé, embora a fé não se reduza à admiração.

Para Marcos, a proposta de Deus torna-se realidade viva e atuante em Jesus. Ele é o Messias libertador que, com a sua vida, com a sua palavra, com os seus gestos, com as suas ações, vem propor aos homens um projeto de liberdade e de vida. Ao egoísmo, Ele contrapõe a doação e a partilha; ao orgulho e à auto-suficiência, Ele contrapõe o serviço simples e humilde a Deus e aos irmãos; à exclusão, Ele propõe a tolerância e a misericórdia; à injustiça, ao ódio, à violência, Ele contrapõe o amor sem limites; ao medo, Ele contrapõe a liberdade; à morte, Ele contrapõe a vida. O projeto de Deus, apresentado e oferecido aos homens nas palavras e ações de Jesus, é verdadeiramente um projeto transformador, capaz de renovar o mundo e de construir, desde já, uma nova terra de felicidade e de paz. É essa a Boa Nova que deve chegar a todos os homens e mulheres da terra.

Irmãos e Irmãs,

Paulo explica na sua carta de hoje aos Coríntios(1Cor 7,32-35) as vantagens do celibato, na perspectiva da escatologia.  É melhor e aprazível sempre adotar um estado de vida que nos deixa livres. O celibato como entrega total a Deus, a Igreja e aos irmãos que precisam de nossa ação. Tudo isso para que, a título de mensagem para a missa de hoje, a Igreja é chamada a apresentar ao mundo a Palavra de Deus e o anúncio de seu Reino. Como confirmação dessa mensagem, deve também demonstrar, em sinais e obras, que o poder de Deus supera o mal: no empenho pela justiça e no alívio do sofrimento, no saneamento da sociedade e na cura do meio ambiente adoentado.

O desejo de São Paulo é o de apresentar um caminho equilibrado, face a estes exageros: condenação sem apelo de todas as formas de desordem sexual, defesa do valor do casamento, elogio do celibato (cf. 1 Cor 7). Provavelmente, os coríntios tinham consultado Paulo acerca do melhor caminho a seguir – o do matrimónio ou o do celibato. Paulo responde à questão no capítulo 7 da Primeira Carta aos Coríntios (de onde é retirado o texto da nossa segunda leitura). Paulo considera que não tem, a este propósito, “nenhum preceito do Senhor”; no entanto, o seu parecer é que quem não está comprometido com o casamento deve continuar assim e quem está comprometido não deve “romper o vínculo” (1 Cor 7,25-28). Na perspectiva de Paulo, os cristãos não devem esquecer que “o tempo é breve”, quando tiverem que fazer as suas opções – nomeadamente, quando tiverem que fazer a sua escolha entre o casamento ou o celibato.

Palavra e sinal, eis a missão profética da Igreja nos dias atuais. Que Deus nos ajude neste bom propósito!

 
 

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