Ausência necessária |
Por: Jairo Coelho
Seminarista Diocesano
E-mail: jairo.coelho@hotmail.com |
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Muitas vezes não compreendemos o que nos acontece, mas a exemplo de Maria, precisamos guardar tudo em nossos corações. A ausência das pessoas que amamos é um exemplo desses desígnios difícil de entender e aceitar. Porém, muitas vezes é algo necessário. É o que nos ensina Jesus: “Ouvistes o que Eu vos disse: vou e volto a vós. Se me amardes, certamente haveis de alegrar-vos...” (João 14,28).
Assim acontece entre as pessoas que se amam. Porém, mesmo distantes, o simples fato de sabermos que elas existem já é o suficiente para continuarmos seguindo em frente e não nos sentirmos órfãos.
Para os amantes não existem fronteiras nem distâncias que os separe. Eles estão sempre ligados pelo laço do amor e da amizade que os une. “Depois de algum tempo você aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer, mesmo a longas distâncias e o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida” (William Shakespeare).
Portanto, os amigos sempre suportam a distância, o tempo e até mesmo a falta de comunicação. Porque eles estão tatuados para sempre em nossos corações. Por isso, jamais esquecemos suas palavras, seus gestos, seus testemunhos. Com freqüência lembramos cada detalhe dos momentos vividos juntos e não raras vezes as lágrimas são inevitáveis.
É neste momento que a saudade invade o nosso ser, tomando conta de nós para nos recordar que é, sobretudo na ausência, que precisamos testemunhar tudo o que vimos e ouvimos. É a dor da ausência que nos ensina a valorizar e a ruminar cada fragmento de uma relação de amor.
A solidão é importante no processo de libertação, ela proporciona o encontro pessoal com Cristo. O deserto é o lugar santo onde a espiritualidade e o mistério se abraçam. Portanto, pela solidão alcançamos a comunhão com Deus, pois ela é um convite pessoal do Pai para estarmos a sós com Ele. Os apóstolos custaram a entender isso e não queriam aceitar o fato de Jesus tê-los de deixar. Nós não somos diferentes!
Quando nos deparamos com a realidade da ausência claudicamos, custamos a dissipar as neves que não nos permitem enxergar além de nós mesmos, o coração fica irrequieto e não somos capazes ao menos de reconhecer a presença de Deus, que se manifesta nos detalhes da vida, principalmente por meio das pessoas que estão ao nosso redor. Entretanto, a dor da separação precisa ser superada pela certeza do reencontro.
Diante de tudo isso, nossa atitude deve ser sempre de gratidão a Deus pelos amigos que temos, pois na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença, perto ou longe, eles sempre serão a mais bela tradução do amor. “É maravilhoso receber demonstrações de boa amizade, mas que seja em todas as circunstâncias, e não somente quando estou convosco” (Gálatas 4,18).
Desse modo, repitamos hoje nós as palavras de Rute: “O Senhor trate-me com todo o rigor se outra coisa, a não ser a morte, separar-me de ti!”(Rute 1,17) e aprendamos a cada dia a conviver com a ausência necessária.
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