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Não haverá mais templo
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 
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As grandes experiências do autor do Apocalipse são provocadas pela ação do Espírito. Já no capítulo 1, versículo 10, “movido pelo Espírito, ele experimentou o Cristo ressuscitado no coração das comunidades. Agora, no capítulo 21, versículo 10, “em espírito”, Ele é conduzido a uma montanha grande e alta a fim de ver a cidade santa, Jerusalém, descendo do céu, de junto de Deus. Na Bíblia, com muita frequência, a montanha é o lugar onde se experimenta a presença de Deus.

A Jerusalém celeste é a nova sociedade nascida do anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. É dom de Deus, mas é, também, resultado das lutas do povo por justiça e liberdade.

O Apocalipse afirma que a nova sociedade é a prostituta transformada pela força do Evangelho. A mensagem que ele nos dá é esta: não se trata de esperar que a Jerusalém celeste se concretize na consumação final, pelo contrário, é hora de por mãos à obra e, pelo Evangelho, transformar em esposa do Cordeiro a Prostituta, que é a sociedade em que vivemos e com a qual, em maior ou menor escala, todos nós nos prostituimos. Não se trata de destruir este mundo para refazê-lo do nada. Trata-se, antes, de renovar radicalmente este mundo, mudando todas as relações.

O texto apresenta algumas características da nova sociedade: 1 – É radiante da glória de Deus, ou seja, é a manifestação visível e luminosa da presença de Deus na humanidade. 2 – Ela brilha como uma pedra de jaspe cristalino. 3 – Ela tem uma grande muralha com doze portas. É uma sociedade proposta aberta a todos. É a sociedade que irá por em prática o projeto de Deus anunciado desde o Antigo Testamento, manifestado plenamente em Jesus e confiado aos apóstolos do Cordeiro.

Não há nela nenhum Templo. No Antigo Testamento, o Templo de Jerusalém era o lugar onde o povo se encontrava com Deus, sobretudo mediante as celebrações e sacrifícios, oficiados pelos sacerdotes. A nova sociedade não precisa mais de liturgia ou de mediações religiosas, políticas e econômicas. A única e verdadeira liturgia da nova humanidade é a vivência do projeto de Deus, o sacerdócio do povo de Deus e o sacerdócio do Cristo se fundem numa única realidade, pois a humanidade como um todo contempla a Deus face a face. Deus e o Cordeiro, vivendo em meio a seu povo, são a luz da sociedade que nasce da experiência do Espírito. Enquanto não chegar o momento de dispensarmos liturgias e mediações, sejam elas de qualquer gênero ou espécie, fiquemos atentos às autênticas experiências que o Espírito nos sugere.


 
 
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