Domingo de ramos - O relato da Paixão |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
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O relato da Paixão, segundo São Lucas é mais ameno. Ele não quis comover-nos com a descrição dos sofrimentos de Jesus e seu heroísmo ao enfrentá-los; não se deteve na descrição das torturas que recebeu. Seu relato está cheio de serenidade Lucas, como evangelista, quer transmitir-nos uma boa notícia.
Ele fala em um asno sobre o qual ninguém havia montado, em uma sepultura na qual ninguém havia sido sepultado. O animal que o Senhor utiliza para sua entrada em Jerusalém, como Messias, filho de Deus é um animal que estava destinado para isso e não para outra coisa.
Também Maria, mãe de Jesus, era uma mulher intocada, virgem! Com Jesus, vem a novidade: o nascimento, o sepultamento e a investidura como rei.
O pão entregue, o cálice da aliança no sangue e no corpo crucificado que se entrega: o Cenáculo e o Calvário são lugares sacrificais, onde o amor maior se exprime sem nenhum tipo de limitações. Jesus morre na cruz perdoando aqueles que não sabem o que fazem. Ele oferece o cálice da Aliança àqueles que, como Judas, o atraiçoam ou como os outros apóstolos que, a começar por Pedro, lhe faltaram no momento da fidelidade. No contexto do pecado do mundo e da Igreja emerge a bondade de Jesus, que supera todos os limites, todas as fronteiras.
O Jesus que ora no Cenáculo, em Getsêmani, no Calvário, o Jesus da Paixão é um Jesus em constante atitude de oração. Seu coração estava agarrado ao Abbá, seu Pai e dele e de sua boa vontade esperava tudo. Por isso, sua oração final na cruz é a oração de uma criança que dorme nos braços de sua mãe: “Em tuas mãos entrego o meu espírito”.
O relato da Paixão destaca os traços mais humanos de Jesus. Compreende a fragilidade de Pedro e lhe anuncia uma restauração. Consola as mulheres de Jerusalém que choram e se lamentam e que seguiam atrás dele. Acolhe o ladrão arrependido. Assim manifesta a bondade que nele habita. O próprio sepultamento de Jesus parece que oculta uma surpresa.
O evangelista não se detém na tortura, na violência, não deseja chocar. Apresenta a dignidade do sofrimento que revela a profundidade da encarnação de Deus. Lucas nos ensina a assumir as tragédias da existência, sem perder o equilíbrio, sabendo que somos suportados pelo Deus Abbá da Vida e com toda certeza de que sempre encontraremos energia interior para superar tudo e esperar.
É uma grande lição para nós. As páginas da Bíblia são riquíssimas em lições e a cada vez que as lemos, encontramos uma mensagem que serve para aplicarmos em nossa vida.
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