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Uma comunidade de missionários
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 
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Um povo de profetas e missionários se reúne para celebrar a fé, para fazer a experiência da realeza e santidade do Deus que caminha com o seu povo. A santidade de Deus preenche e transborda nosso espaço celebrativo, sua glória domina a terra e sua palavra purifica nossos lábios. À pergunta de Deus: “A quem vou enviar? Quem irá por nós?” queremos responder: “Aqui estou! Envia-me”.

Um povo sofrido e espoliado se concentra em torno de Jesus para ouvir sua palavra libertadora. Ele celebra conosco sua vida, olhando-nos de frente, iluminando e transformando nossa realidade. Não se afasta de nós por causa de nossos pecados, mas nos diz: “Não tenha medo! De hoje em diante serás pescador de homens!”

Um povo de fé celebra a vitória de Cristo, morto, sepultado e ressuscitado, que apareceu aos apóstolos e hoje se manifesta a nós na sua palavra e no pão partilhado. Nós cremos nisto e unindo-nos aos primeiros cristãos, transmissores desta mesma fé, celebramos a vitória da vida sobre a morte.

O texto deste quinto domingo do Tempo Comum fala da vocação dos primeiros discípulos, no evangelho de Lucas. O evangelista arrumou a seu modo o relato do chamado de Pedro e seus companheiros. De fato, Lucas não pretende registrar os fatos tal qual aconteceram; ele faz uma leitura teológica dos acontecimentos. Segundo os estudiosos, o evangelho de hoje é uma condensação de vários episódios. Em primeiro lugar, Lucas quer mostrar que o lago de Genesaré é o “lugar teológico” onde Jesus desenvolve sua atividade libertadora: ele não pretende apenas descrever fatos, mas o que o Mestre fez para criar o mundo novo. Em segundo lugar, o evangelista quer, mediante a narrativa da pesca milagrosa, salientar que a missão dos discípulos prolonga as ações de Jesus. Em terceiro lugar, Lucas deixa bem claras as condições para ser missionário: dar atenção à palavra do Mestre e deixar tudo.

A ordem – “Avança mais para o fundo” – é carregada de simbolismo para os discípulos, às voltas com a missão de anunciar o Reino. O Mestre orienta-os a dar passos na direção das situações desafiadoras, sem se contentarem com as tarefas facilitadas.

A obediência à orientação missionária supõe grande coragem e espírito de iniciativa. Os medrosos, inseguros e sem criatividade estão excluidos. Preferirão as águas rasas, onde não se corre risco. E estarão bem longe do verdadeiro campo de missão. Serão missionários inúteis, em busca de segurança.

Jesus foi um exemplo consumado de busca de águas profundas e chegou ao extremo de dar a vida por amor.

Que cada um de nós, que queremos fazer parte dessa comunidade missionária, peça ao Divino Espírito Santo que tire do seu coração o medo que o impede de buscar águas mais profundas e que faça de cada cristão um servidor do Reino, criativo e corajoso.


 
 
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