Se o grão de trigo não morre... |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
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É curioso que a morte seja o momento mais alto da vida, mas é assim, porque nela se confirma o sentido de tudo quanto foi vivido. Olhando para Jesus no momento de sua morte, compreendemos muito melhor tudo aquilo que Ele realizou ao longo de sua vida, pois entendemos seu significado. Aquilo que, em um primeiro momento nos parecia confuso e obscuro se vê agora sob nova perspectiva que ilumina e esclarece. A forma como Jesus morreu confirma o que foi a sua maneira de viver: uma vida dedicada a realizar o bem e a pregar o Reino de Deus.
Mas é necessário esse último passo. Sem ele, a vida de Jesus ficaria pendurada no vazio. É necessário nos darmos conta de que seu amor pelo Pai é pleno, incondicional e sem reservas. Sua entrega produziu o fruto da vida, isto é, a Nova Aliança entre Deus e os homens de que fala o profeta Jeremias na primeira leitura deste quinto domingo da Quaresma. Segundo a Nova Aliança, a lei de Deus está inscrita em nossos corações. Basta abrirmos o coração para que Deus entre e nunca mais saia. Ninguém precisará nos ensinar nada sobre Deus porque todos nós o reconheceremos. Essa é a Nova Aliança que Jesus selou com a sua morte, com sua entrega, para que tivéssemos vida e uma vida de verdade.
Entretanto, tudo isso não acontece sem dor. A morte de Jesus foi um passo necessário. O amor não se manifesta sem entrega, sem que haja renúncia da própria vontade. Os esposos sabem bem disso. Não há casamento que funcione bem sem uma razoável dose de sacrifício, de renúncia e de entrega.
De igual maneira, a Nova Aliança firma-se a partir de entrega mútua. Mas, como é uma iniciativa de Deus, como é vontade de Deus estabelecer essa Aliança com a humanidade, ao dar-nos de presente a vida, é Deus quem, verdadeiramente, está dando o primeiro passo nessa entrega. Para demonstrar sua boa vontade, se fez um de nós, viveu as mesmas alegrias e dificuldades nossas e acabou por morrer como nós. Mas há uma diferença: fez de sua própria morte um sinal de seu amor por nós. Sua morte é o grão de trigo que morre e, ao morrer, dá muito fruto. Sua morte é já ressurreição para todos, pois, ao ser elevado na cruz, sinal da morte, transforma-se em sinal de vida. O sinal que muitos cristãos levam pendurado no pescoço é sinal do triunfo da vida, da aliança de Deus conosco, de nossa esperança naquele que, ao morrer, nos deu de presente a vida.
O amor de Deus é infinito. Ele tudo pode. Ele não precisa de nós. Mas Ele sabe que nós precisamos dele e, por isto, espera de nós a nossa própria entrega ao seu Reino de paz, amor e eternidade.
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