As últimas realidades |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
|
Leia os outros artigos |
|
Estando quase no final do ano litúrgico, o evangelho do trigésimo terceiro domingo do Tempo Comum nos traz algumas palavras um tanto estranhas de Jesus a seus discípulos. Ele anuncia, ao que parece, acontecimentos terríveis. Se aquilo que Jesus nos diz se cumprisse, deveríamos dizer que é o fim deste mundo que conhecemos e em que vivemos. Com o fim do mundo chegaria, também, o final de nossa vida. Não podemos interpretar de outra maneira a afirmação de que o sol não oferecerá mais luz e de que as estrelas cairão do céu sobre a terra. Trata-se do anúncio do desastre final. Mais de um filme foi realizado nos últimos anos descrevendo esse final terrível do mundo e da vida que contém.
Mas não devemos ler apenas o Evangelho. O Evangelho sempre deve ser lido junto a outras leituras que a Igreja nos oferece para nossa reflexão a cada domingo. Assim, na primeira leitura, tomada do profeta Daniel, anunciam-se também tempos difíceis. Mas o tópico seguinte nos diz que serão tempos de salvação para o povo. Esse desastre final não será um desastre para todos. Alguns, os inscritos no livro, serão salvos para a vida eterna.. Outros, para o castigo eterno. Aqui já nos parece que esse final não é igualmente terrível para todos.
A segunda leitura oferece a chave para interpretar o que lemos. A carta aos Hebreus faz uma comparação entre os sacrifícios sacerdotais de outras religiões e o sacrifício oferecido por Cristo, isto é, a sua própria vida. Diz que os sacerdotes de outras religiões precisam oferecer muitos sacrifícios porque, como não podem alcançar o perdão dos pecados, continuamente se vêem obrigados a aplacar a Deus pelas ofensas causadas pelos pecados dos homens. Mas Cristo, o supremo sacerdote da Nova Aliança, ofereceu um único sacrifício, sua vida, por nossa salvação. Termina a leitura afirmando que “onde há perdão não há oferenda pelos pecados”. Esta frase esclarece que a Nova Aliança que Jesus selou com seu sangue nos concedeu o perdão. Voltamos a ser recebidos como Filhos de Deus Pai. Aquele Deus vingador e justiceiro de que falava o Antigo Testamento nos mostrou a sua face: a de um pai que perdoa e acolhe.
Esse mundo passa. Nossa vida tem um final. Isso é assim e não o mudaremos. O fim do mundo e o fim de minha vida chegarão algum dia. O importante é saber que, acolhidos pelo perdão de Deus, que nos é oferecido em Cristo, podemos ter acesso a uma vida nova, estamos salvos. Essa é nossa fé. Não há, pois, razão para temer.
A exortação de Jesus não tem um tempo limitado de validade. Seu valor é eterno, como eternas são todas as palavras de Jesus. . A vinda do Filho do Homem é certa e por isso há necessidade de manter-se vigilante e preparado para acolhê-lo.
Agora, de nossa parte, seria bom que nos comportássemos de uma maneira digna de quem foi perdoado, salvo e acolhido por Deus como um filho seu. Mudar a nossa vida corrigindo as falhas, desfazendo os nós, seria muito bom para nós e muito agradável aos olhos de Deus.
Senhor Jesus, que eu me deixe guiar por tuas palavras e me mantenha vigilante, na caridade, à tua espera.
|