O poder de Jesus |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
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O evangelista Marcos está preocupado em mostrar quem é Jesus. Mas ele não apresenta definições abstratas, mas apresenta Jesus agindo. E, a partir de seus gestos, nós podemos descobrir quem Ele é.
O trecho de Marcos 1,21-26 é de grande importância. Trata-se do primeiro ato público de Jesus. Marcos situa no tempo e no espaço o relato do primeiro milagre: é um dia de sábado e Jesus entra na sinagoga, acompanhado pelos discípulos que acabara de convocar.
O sábado era um dia sagrado para as pessoas daquela época, dia de celebrar a vida e a comunhão com Deus. A sinagoga era lugar de estudo e aprendizagem. Mas o sábado e a sinagoga não estavam favorecendo a vida.
Jesus começa a ensinar. O evangelista não fala no conteúdo desse ensinamento porque, neste evangelho, ensino e prática são a mesma coisa. O povo se admira porque Ele ensina como quem tem autoridade e não como os doutores da Lei. Depois que o homem possuído por um espírito mal foi libertado, o povo fica espantado e todos se perguntam: “O que é isto? Um ensinamento novo, dado com autoridade.”
O ensinamento é novo porque liberta ao mesmo tempo em que ensina. Aí está a diferença entre o seu ensinamento e o dos doutores da Lei, cuja prática não conduz à libertação.
O homem possuído pelo espírito mal é símbolo de todas as pessoas despersonalizadas, às quais foi impedido falar e agir como sujeitos da própria vida e história.
O espírito mal reage diante de Jesus:”O que queres de nós?”O espírito mal fala no plural, sinal de que representa de fato tudo o que despersonaliza e aliena as pessoas. Ele é o princípio de todas as alienações da sociedade: discursos políticos enganadores, planos econômicos que roubam do povo o pouco que possui, entendimentos sociais que não ajudam o povo a sair da miséria etc.
Marcos está preocupado em mostrar quem é Jesus. E, no episódio em questão, o espírito mal reconhece que Jesus veio para destruir todas as raízes do mal e suas manifestações. Jesus é aquele que veio destruir o mal que aliena e despersonaliza as pessoas. Jesus é o “forte” anunciado por João Batista. O espírito mau já sabe quem é Jesus.
O Mestre é a pessoa escolhida pelo Pai para libertar as pessoas. Para o povo da Bíblia, conhecer o nome de alguém é, de certa forma, ter controle sobre a pessoa. Jesus é o forte. O espírito da alienação não tem poder sobre Ele.
É tarefa dos seguidores de Cristo proclamar quem Ele é. Não fica bem o fato de Jesus ser anunciado pelo espírito do mal.
Marcos conclui o episódio com uma espécie de sumário: “A fama de Jesus logo se espalhou por toda parte, em toda a região da Galileia”.
O povo vai descobrindo que chegou para ele a Boa Notícia do Reino que é vida para os que dela foram privados.
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