A santidade, nossa vocação |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
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Estamos ainda ouvindo os ecos das leituras evangélicas da festa de Todos os Santos, celebrada no último domingo e que perpassam todo este mês na recordação do nosso fim último na plenitude do reinado de Cristo.
Fomos chamados à santidade. Fomos vocacionados pelo batismo a instaurar todas as coisas em Cristo. Já fazemos parte do Reino, apesar de ainda vivermos aprisionados num corpo mortal.
A tomada de consciência deste chamado, nas pessoas e na sociedade passa por vários estágios, como nos ensina o Apóstolo na Carta aos Romanos. De um estado natural, onde, na sinceridade do coração, descobrimos a presença do bem e do mal, passamos ao conhecimento da Lei que nos foi dada na formação do povo eleito através de Moisés: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e com toda a tua mente. Este é o maior e primeiro mandamento. O segundo é semelhante a este: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e oS profetas” (Cf. Mt. 22, 37-40).
Mas, para chegarmos às primícias do Espírito, devemos procurar realizar o amor pela fé em Cristo. “Se queres ser perfeito, vai vende tudo o que tens e segue-me”, disse Jesus àquele moço que tinha cumprido toda a lei. Devemos superar o mandamento do amor, amando o próximo como Deus nos amou.
“A lei e os profetas”, está no Evangelho de Lucas (Cf. Lc 16,16), “duraram até João, desde então o Reino de Deus está sendo anunciado e todos se esforçam para nele entrar”.
Com a encarnação do Filho de Deus, o Reino irrompeu entre nós e todos os que acreditamos no mistério da encarnação, tornamo-nos filhos de Deus (Cf. Jo. 1,12) e já fazemos parte da comunhão dos santos. Não que a obra esteja acabada. Sofremos as vicissitudes da carne, o que fazia Paulo exclamar: “Infeliz de mim! Quem me livrará deste corpo destinado à morte? (Cf. Rm. 7,24).
O caminho da santidade foi mostrado por Jesus no Sermão da Montanha. Em contraposição à Lei que proscrevem os atos humanos atentatórios ao relacionamento no amor –Não matarás...Não furtaras...- Cristo declara bem-aventurados, felizes, os que se dão de coração, os que nada possuem, os que sofrem pela justiça e que morrem testemunhando a presença do Reino.
Não que a via seja fácil. A porta é estreita, mas por ela passam os que dominam seus vícios e paixões, para viverem a gloriosa liberdade dos filhos de Deus.
São João da Cruz no esboço do “Monte da Perfeição”, apresenta três caminhos partindo do seu sopé. Dois se mostram largos, indicando o caminho imperfeito dos que se agarram e não se desgarram dos bens terrestres, daqueles que julgam que por seus méritos estão garantidos nas coisas celestiais. Vão se afunilando até se fecharem: “não pude subir ao monte, por enveredar-me por caminho errado”. O terceiro caminho começa estreito e está marcado por uma sucessão de “nada... nada”... para ir se alargando até penetrar na glória: “Depois que me pus em nada, nada me falta”.
Na busca da vivência deste caminho da perfeição, sempre podemos contar com a largueza da misericórdia divina, sempre encontramos um coração de Pai pronto a nos acolher, como acolheu o filho pródigo, que nos perdoa os desvios e nos dá a graça de reiniciarmos a caminhada: “Feliz aquele cujas iniquidades foram perdoadas” (Cf. Sl. 32.1).
A vida no Espírito, nós a vivemos na procura da realização em nós e na sociedade das bem-aventuranças. Fazemos irromper aqui e agora o Reino de Deus, que se consumará definitivamente quando Cristo vier em sua glória a julgar os vivos e os mortos.
“Mas para os que estão em Cristo Jesus, já não há condenação alguma. Pois a lei do Espírito que dá a vida, em Cristo Jesus te libertou da lei do pecado e da morte” (Cf. Rom.8,1).
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