No próximo domingo, a Igreja celebra o Dia das Missões, uma ocasião propicia para uma reflexão mais aprofundada sobre sua tarefa missionária, de levar ao mundo a Luz de Cristo.
O Evangelho de São João, no capítulo primeiro, nos ensina que Cristo é a Luz do mundo, que armou sua tenda entre nós, que se tornou homem para nos tornar filhos de Deus. O conteúdo do anúncio é a afirmação da presença da Luz de Cristo que se encarnou plenificando todas as coisas.
Luz que se manifesta nos ensinamentos evangélicos e na vida do próprio Cristo que padeceu o martírio da cruz e manifestou sua glória ressurgindo dos mortos. Luz que deve se manifestar em todo batizado.
O Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática “Lumen Gentium”, assim expressa a missão da Igreja:” iluminar todos os homens com a claridade de Cristo que resplandece na face da Igreja”. E continua mais adiante, afirmando que “as presentes condições do mundo tornam mais urgente este dever da Igreja, a fim de que os homens, hoje mais intimamente unidos por vários vínculos sociais, técnicos e culturais, alcancem também total unidade em Cristo.”
Evangelizar é, antes de tudo, dar testemunho, de maneira simples e direta, de Deus revelado por Jesus Cristo no Espírito Santo; de que no seu Filho amou o mundo, e no Verbo encarnado deu vida a todas as coisas e chamou os homens a participar da sua glória.
Deus não é um deus distante e desconhecido. É Pai que nos ama e no seu Filho nos oferece a salvação. Na morte e ressurreição de Cristo nos dá a esperança da vida eterna, já iniciada neste mundo pela vivência das bem-aventuranças, na construção do seu Reino de santidade e de vida, de justiça, de amor e de paz.
Esta mensagem deve interpelar a vida toda, pois se opõe radicalmente ao pecado, que nos fez inimigos de Deus e, em conseqüência, inimigos uns dos outros, tendo de suportar ainda a hostilidade de toda a natureza.
É uma mensagem de libertação, pois supera o egoísmo pelo vínculo do amor que gradativamente aspira e atinge o ágape, a doação total, recíproca e universal, pela qual anseia toda a natureza.
Não se limita a uma libertação política, econômica ou social. Essas melhorias nas condições de vida, se não forem arraigadas nos ideais evangélicos são de duração efêmera, e escondem, muitas vezes, em si o germe do mal, como hoje sentimos nas condições sócio-econômicas e políticas ditadas pelo neoliberalismo
A pregação comporta necessariamente uma conversão. Desde os primórdios da história da salvação, a voz profética sempre se fez ouvir no sentido de uma radical mudança de vida, um rompimento definitivo com o pecado. A voz de João Batista é clara, oportuna: “O machado já está na raiz da árvore. Convertei-vos” (Cf. Mt.3,10). Ele era o testemunho da Luz que já estava brilhando na pessoa de Cristo a quem apontou como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Para ser iluminado por esta Luz, é necessária a conversão.
Recebida de Cristo a missão de levar aos confins da terra e dos tempos a mensagem salvadora, os apóstolos partiram. Sua voz se fez ouvir por todo o universo e suas palavras estenderam-se até os confins do mundo.(Cf. Sl. 18,5). No mesmo dia de Pentecostes, Pedro prega ao povo o arrependimento para o começo de uma nova vida na liberdade dos filhos de Deus, para serem salvos pelo Cristo morto e ressuscitado, recebendo o seu Espírito (Cf. At 2, 38).
Sucessora dos Apóstolos, a Igreja tem na missão a sua razão de ser. Conta com a contínua realização da promessa de Cristo de estar com ela até a consumação dos séculos (Cf. Mt.28,20). Esta presença, diz-nos João XXIII,”sempre viva e operante na Igreja, é sentida sobretudo nos períodos mais graves da humanidade”.(Bula Humanae Salutis)
Não desconhecemos o momento difícil dos dias atuais. Os albores de um novo tempo e de uma nova civilização, de progresso científico, de uma nova ordem social exigem o testemunho da fé. A Evangelização se impõe em novos moldes e com novos métodos, na solidariedade da Igreja com a Família Humana, para ser a alegria e a esperança de uma vida plena ainda na terra como preparação e antecipação do Reino.
A nova e sempre eterna evangelização não pode circunscrever-se ao interior das igrejas e das sacristias. Tem de mostrar sua vitalidade e, enfrentando os desafios dos tempos, trazer aos homens a mensagem do Evangelho que penetra todas as coisas e que as impulsiona para a realização plena do homem e da humanidade. “Ide pelo mundo inteiro e proclamai o Evangelho a toda criatura” (Cf. Mc.16,15).
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