Senhora da Conceição Aparecida |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
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A história da pequenina imagem da Virgem Aparecida nos remete ao começo do plano divino de salvar o povo de Israel. Moisés foi resgatado das águas para que pudesse livrar seu povo da escravidão do Egito. E, com fortaleza de Deus, o conduziu por 40 anos no deserto, tornando-o uma raça forte como nenhuma outra, para que reafirmasse perpetuamente o santo nome de Javé.
Nos anos setecentos, pobres pescadores labutavam na pesca premidos pela obrigação de levar peixes para o Conde de Assumar que passava por aquelas paragens, por onde serpenteava o Rio Paraíba. Lançando as redes viram, retirada do fundo das águas, uma imagem enegrecida e partida. De novo arremessada a rede, trouxe ela a cabeça da imagem e, a seguir, a riqueza da pesca.
Levada a uma ermida, aquela imagem da Virgem concebida sem pecado começa a ser venerada pelo povo humilde e a abençoá-lo, mostrando-lhe o caminho da salvação e da vida.
A cada dia que se passava, graça sobre graça era derramada por intercessão da Senhora Aparecida. Por ela era mostrado o caminho da conversão. A ela se elevava a o clamor nas aflições.
Daquela capela primitiva, onde o povo se recolhia para a reza do terço, até hoje, no santuário-basílica, a gente sente, com alegria, na voz de todos os romeiros o murmúrio da oração de São Bernardo: “Lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria que jamais se ouvir dizer fosse por Vós abandonado quem recorreu à vossa proteção. Eu, animado com tal confiança, me prostro a vossos pés. Não desprezeis minha súplica, nem me abandoneis, o Virgem gloriosa e bendita, ó Mãe do Verbo Divino, mas atendei-me benignamente.”
Da colina de Aparecida jorra a misericórdia de Deus sobre o povo.
A devoção à Maria é uma dádiva de Deus para todos nós. Ainda colônia de Portugal, foi o Brasil consagrado à Imaculada Conceição. Apesar de todas as dificuldades da evangelização pela extensão do território, pelos problemas de comunicação e diversidade dos costumes, a nação brasileira sempre manteve firme no coração o amor à nossa Mãe do Céu. Por onde andamos, sentimos sua presença misericordiosa e os cantos a seu louvor a ecoar nas grotas, nas planícies e nos montes.
Ela é a glória de nosso povo, a sua alegria e seu refúgio, pois vence o dragão da maldade, como Judite que libertou a sua cidade do poder de Holofernes.
Por isso a Igreja canta o próprio refrão do amor divino à Maria, revelado no Livro dos Cânticos: “Quem é esta que avança como a aurora, formosa como a lua, fulgurante como o sol, terrível como um exército em linha de batalha” (Cf. Cant.6,9)
A pequena imagem da Mãe Aparecida, na sua cor, a cor de barro e da terra, faz-nos lembrar a sua formosura e beleza, cantada no mesmo Livro sagrado: ”Sou morena, mas formosa...”.
A beleza de Maria está na sua fé, na sua fidelidade perfeita e abertura do coração à voz de Deus. Não titubeou em momento algum de sua vida, nem mesmo nas agruras da cruz que foi imposta a seu Filho diante de seu olhar e de seu coração. Permaneceu de pé, Ela que se fez a serva do Senhor, para que nela se cumprisse a vontade divina.
Eis porque todas as gentes a proclamam bem-aventurada. Nela fez grandes coisas Aquele que é poderoso, que cumula de bens os famintos e cujo nome é santo.
Ao celebrarmos a festa de nossa Rainha e Mãe, a padroeira de nossa Pátria, renovemos nossa fé e esperança naquele que, vindo a nós por Maria, derrama sua bênção sobre nós e sobre todo o seu povo. Unamo-nos aos milhares de vozes e entoemos o cântico de ação de graças que de seus lábios brotou quando, saudada como bendita entre todas as mulheres porque trazia em seu seio o Libertador e Redentor, “A minha alma engrandece o Senhor e meu espírito exulta no Senhor.”
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