Teillard de Chardin, uma vez, nas estepes da Ásia, não tendo nem pão nem vinho, numa manhã, ao contemplar o sol que nascia lá no Oriente, procurou elevar-se acima dos símbolos à majestade de Deus e sentir sua presença em todas as coisas que se santificam pela encarnação de Cristo.
Estamos às vésperas do início do ciclo das estações. Para nós, do hemisfério sul, depois de um outono-inverno indistinto senão por alguns dias mais frios e algumas árvores que se despem das folhas, afora os pastos áridos, aguardamos, ansiosos, a primavera com suas chuvas benfazejas e maior aquecimento do calor dos dias.
No hemisfério norte, o inverno. Entram os dias escuros e frios. A natureza se recolhe quase nas sombras da morte em gestação de novo renascer da vida depois de alguns meses.
Seja numa ou noutra situação, todas as coisas refletem o poder de Deus e a sua misericórdia, Tudo foi por Ele criado. Citando São João da Cruz: “Deus criou todas as coisas com grande facilidade e rapidez, deixando nelas um rastro de quem Ele é”. E continua: “Tudo isso fez por meio de sua Sabedora, com a qual as criou, e esta é o Verbo, seu Unigênito Filho.”
O mesmo Santo ainda escreve que a formosura da natureza se realizou quando Deus, em seu plano de amor, por seu Filho se encarnou.
Nós somos discípulos e missionários do Senhor Jesus. Conhecemos pela Palavra de Deus todo esse mistério do amor divino. Sabemos também que esta encarnação do Cristo em toda a natureza se faz por sua graça e seu Espírito, através de nossa missão, do exercício do profetismo e realeza que recebemos em nosso batismo e, sobretudo, do sacerdócio santificador.
Por isso não nos estranha quando, naquelas paragens do Himalaia, um místico pôde sentir que o mistério eucarístico que nos antecipa a glória final, não podendo ser celebrado, poderia ele, sacerdote, oferecer ainda que antecipadamente, todo o universo em sacrifício perfeito unido ao de Cristo.
Diante da natureza em festa procuremos também nós exercer nosso múnus sacerdotal. Nas manhãs radiantes da primavera, ao contemplarmos os ipês floridos que já a anunciam ou o nascer do sol, entoemos um hino de ação de graças e louvor.
Em ofertório, elevemos nossos corações aos céus e recebamos alegres a comunhão com Deus e com tudo o criado que o sangue de Cristo restaura no plano divino.
Toda a nossa vida, tornando-a mais próxima do Cristo Encarnado, seja um constante hino de alegria. Um cristão não pode ser triste. Em tudo deve ser exuberante sua vida porque pela fé lhe foi revelado, em Cristo, o amor de Deus.
Assistindo o renascer da vida na natureza nesta primavera, renovemos também a esperança na vida espiritual. Deixemos que o espetáculo da natureza nos induza a uma celebração constante e eterna da presença do Espírito de Jesus em nós e em tudo para a glória do Pai.
|