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Exaltemos a Santa Cruz
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 
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Na próxima sexta-feira, dia 14, a Igreja celebra a festa da exaltação da Santa Cruz. Parece estranho louvar-se a  Cruz, quando todos nós nos sentimos chamados à vida e a cruz instrumento de martírio. Qual o sentido da cruz? Santo Agostinho, no seu tratado sobre os salmos, exclama: “Vede, ó cristãos, a glória da cruz. Já fulgura na fronte dos reis aquela que os inimigos insultaram. Já as maravilhas que realiza provam a força divina que nela reside. Venceu a terra inteira sem espada, venceu-a o lenho da cruz”.

O sangue redentor de Cristo santificou aquela madeira sagrada e por ela venceu a morte e nos conduz a todos à ressurreição cujas portas Ele nos abriu, como pioneiro(Cf. 1Cor.15, 20-23,) rasgando o seio da terra e subindo glorioso na sua natureza humana para junto do Pai.

Enquanto homens, descendentes de Adão, todos nós sofremos a dor e a morte. A isso não podemos fugir. E nossa libertação passa pelo seguimento de Jesus. A opção pelo seu caminho exige que assumamos a nossa condição e a superemos pela renuncia e sacrifício para caminharmos em direção à Luz.  “Aquele que não carrega a sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo” (Cf. Lc 14, 27)

Por que então temer pegar a cruz, pela qual se vai ao Reino, pergunta a Imitação de Cristo. Na Cruz está a salvação, na cruz está a vida, a força e a perfeição, enquanto que é por ela que, pela graça, podemos superar a condição de pecado em que nascemos até nos conformarmos inteiramente com Cristo.

Estranha condição a nossa. Vivemos presos a este mundo que arrasta a nossa vida para a matéria que desaparece com o tempo. Não nos apercebemos que podemos ir para onde quisermos, procurar qualquer caminho e não nos libertaremos das dores da morte. As alegrias são fugazes e os prazeres tem o seu fim tão rápido quanto o pulsar dos relógios.

São amarras que prendem nossa vida de espírito. Temos ânsia de Deus, da felicidade suprema, mas sentimos em nossos membros o peso que nos arrasta para as concupiscências, de que fala São Paulo: “Quem me libertará deste corpo do pecado?” (Cf. Rm. 7,24). Quem cortará o laço opressor, que nos constrange e a que nos apegamos mais que ao seio materno antes de virmos a este mundo?

Somente a cruz redentora de Cristo nos libertará, se a abraçarmos com amor e generosidade. Nela podemos nos gloriar, porque nela a salvação e a vida e a ressurreição.(Cf. Gal.6,14).

A vida terrestre e sua glória foge-nos sempre até desaparecer nas vascas da morte. Mas a vida do espírito, que é informada pela cruz, esta, iniciada, jamais acabará: “Os desejos da carne levam à morte, ao passo que os desejos do Espírito levam à vida e à paz”(Cf. Rom 8,6).

No Evangelho de São João, no diálogo com Nicodemos Jesus nos fala: “Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado a fim de que todo aquele que crê tenha por meio dele a vida eterna”(Cf. Jo. 3.14-15).

Toda a redenção do universo quis o Pai que passasse pela cruz. É por ela que o mundo será salvo. De instrumento de martírio e de morte para os mais rejeitados pelo mundo, quis Deus torná-la meio de salvação pela morte de seu Filho. Veneremos e exaltemos com toda a Igreja este sinal glorioso que aparecerá nos céus entre as nuvens quando o Filho virá julgar os vivos e os mortos para oferecer ao Pai todo o universo nele, em Cristo, restaurado.



 
 
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