A Bíblia, a tradição e o magistério fontes da revelação divina |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
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“Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo” (S. Jerônimo). O mês de setembro, na Igreja no Brasil, é dedicado à Bíblia. Parece estranho, pois a Palavra de Deus deve estar sempre em nossos corações, em nossos lábios. É luz que ilumina os nossos passos. É sustentáculo e alimento em nossa caminhada.
O sentido da dedicação deste mês não é para reduzir a um só mês todo o significado e importância deste Livro Sagrado. É um incentivo e uma exortação para mais e mais fundamentar a vida na misericórdia de Deus que se revela à nossa natureza humana e, por esta revelação que se tornou plena em Cristo, nos fazer participantes da sua vida divina.
Como ensina a Constituição Dogmática “Dei Verbum”: “A economia cristã, como aliança nova e definitiva, jamais passará, e já não há que esperar nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. 1 Tim.6,14 e Tito 2,13)”
Deus, depois de nos ter falado de muitos modos e em muitas vezes pela história de seu povo e por seus profetas, enviou-nos sua Palavra, o Verbo Divino que em si completou toda a Revelação, expõe-nos a Carta aos Hebreus (Cf. cap.1, 1-2). Com efeito, por Ele fomos conduzidos à participação da divindade, quando foi glorificado na sua Carne pela morte e ressurreição.
A revelação divina se torna manifesta para nós através da Bíblia e da Tradição. Jesus, ao subir aos céus, deixou aos seus apóstolos a missão de anunciar o Evangelho.
Esta missão continua até nós na exortação dos apóstolos para se manterem as tradições que aprendemos seja oralmente, seja pelas Escrituras (Cf. 2 Tess.2, 15) na fidelidade da interpretação daqueles que foram constituídos para conservar integra a revelação para a salvação de todos. É importante vermos como os apóstolos, sobretudo nas cartas de Paulo, reafirmam a unidade do Evangelho, anatematizando aqueles que divergiam do anúncio apostólico (Cf. Gal. 1, 6-10).
A revelação contida nos livros santos e na tradição, promanando da mesma Fonte formam um todo, constituindo um só sagrado depósito da Palavra de Deus, confiado à Igreja. Já no início da pregação apostólica, os cristãos se reuniam, perseverantes na oração, na fração do pão e na doutrina dos apóstolos (Cf. At. 2,42).
Diz a Constituição citada: “Fica, portanto, claro que segundo o sapientíssimo plano divino a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja estão de tal forma entrelaçados e unidos que um não tem consistência sem os outros e que juntos, cada qual a seu modo, sob a ação do mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas” (Cf. no. 177).
A Revelação divina deve ser recebida e anunciada com fé. “Ao Deus que se revela deve-se a obediência da fé” (Cf.Rom.16,26). Em resposta à condescendência de Deus que nos dá a conhecer a sua verdade e bondade, devemos nos entregar a Ele na liberdade de filhos gratos pelo seu dom e pelo seu plano de amor. Ao empenho da inteligência para apreendermos o sentido e a força da mensagem, a Sagrada Escritura deve ser recebida com fé, na humildade de quem, pela insuficiência humana é incapaz de atingir, por sai, a sublimidade da Revelação.
Discípulos e missionários, somos enviados para anunciar ao mundo este dom maravilhoso do Senhor, que no seu Cristo nos faz participantes da sua natureza, a todos os que recolhemos em nosso coração e em nossos atos a sua Palavra, para que o mundo, “ouvindo creia, crendo espere e esperando ame” (S. Agostinho), cumprindo o mandamento maior pelo qual, num só ato, nos unimos ao Criador e a todos os irmãos.
Compenetrados deste grande amor de Deus que, numa frase de Santo Tomas, como que fez de nós, suas criaturas, o seu Deus, só nos resta como Paulo, cantarmos um hino à misericórdia divina: “Ó abismo da riqueza, da sabedoria e ciência de Deus! Como são insondáveis suas decisões e incompreensíveis os seus caminhos!...Pois tudo é dele, por ele e para ele.A ele seja dada a glória para sempre.Amem”(cf. Rom.11, 33-36).
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