Os jogos Pan Americanos e o cristão |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
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Estamos às vésperas dos Jogos Pan Americanos. A cidade do Rio de Janeiro se prepara e se engalana para receber atletas e turistas de toda a América que vêm para exibir seus dotes, os primeiros e para contemplarem o espetáculo e aplaudirem os segundos.
Todos nos encantamos pela beleza e harmonia dos corpos atléticos na perfeição de suas formas, pela sua arte, pelas disputas onde se mesclam força, técnica, inteligência e decisão. Tudo isso num cenário paradisíaco, em estádios belíssimos. Já vivemos os anseios de vermos a abertura dos Jogos com os espetáculos de coreografia cada vez mais belos.
Nessas considerações vem nos à mente o texto Paulino aos fiéis de Corinto, grande cidade, colônia dos dominadores romanos, centro comercial e muito rica: “Não sabeis que aqueles que correm no estádio, corem todos, mas um só ganha o prêmio? Correi, portanto, de maneira a consegui-lo.”(Cf. lCor. 9,24)
O estádio do cristão é o mundo. Nosso prêmio, a glória eterna. Na arena deste mundo trava-se a luta. Luta difícil como diz o Apóstolo em que nossos adversários são fortes. Por isso nos devemos prepara como os atletas, que de tudo se abstém em vista de uma glória passageira. Sacrificam-se nos treinos contínuos de olho no objetivo a palma da vitória.
Paulo, no texto já referido, diz-nos, com o seu exemplo, deste exercício de preparação. Ele não corre ao que incerto ou como quem fere o ar. Reduz seu corpo à servidão, para que, tendo anunciado a mensagem, não venha ser reprovado. E São Pedro nos manda exercitar na sobriedade porque nosso adversário é o demônio que nos rodeia procurando a quem devorar. A ele devemos resistir na firmeza da fé (Cf. 1 Pd. 5, 8-9).
O cristão tem de se santificar e santificar o mundo. “Sede santos como vosso Pai é santo”. O cristão é discípulo e missionário. Deve viver santamente e levar a vida e a santidade a todas as pessoas e a todas as coisas. Impregnar o universo de Cristo.
Ora, como transmitir a mensagem evangélica da boa nova da salvação se dela não estiver cheio o nosso coração? Ninguém pode dar daquilo que não tem. Por isso a primeira coisa que o cristão deve buscar é a própria santidade. Como os atletas antes de se exibirem procuram ter uma vida saudável através de boa alimentação e exercícios, assim nós devemos buscar a santidade pela vivência eucarística e pela oração, para que nossa vida seja informada pela fé.
Revigorados, podemos partir para a missão no nosso campo de luta. A ela somos impelidos pela nossa vocação na participação na missão de Cristo, o profetismo a realeza e o sacerdócio.
Jesus nos disse: “Sois a luz do mundo”(Cf. Mt 5,14)...A luz não pode ficar escondida. “Assim brilhe vossa luz diante dos homens, para que vendo vossas boas obras glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Idem 5,16).
O cristão não pode se esconder diante dos desafios do mundo. Como os atletas tem de enfrentá-los e vencê-los. Na sua vocação profética, como Jeremias, tem de arrancar e plantar. Não pode ficar indiferente diante da maldade que campeia, sobretudo, nos dias de hoje. A denúncia é seu dever.
Ao mesmo tempo tem de procurar implantar a Justiça do Reino. Lutar incansavelmente pela paz que nasce da caridade. Num mundo de ódio e destruição tem de mostrar os caminhos que levam à vida. Santificar todas as coisas para oferecê-las ao Pai, regeneradas pelo sangue de Cristo.
Essa a nossa arena de cristãos. Nela devemos mostrar o desempenho de nossa fé, capaz de infundir a esperança num mundo que não vê outra perspectiva senão a matéria, num mundo que perdeu a noção do élan vital que nos faz viver a plenitude da vida, a vida do espírito inflamada na caridade.
Tenhamos coragem. Não percamos nosso ideal e nem deixemos se extinguir a chama em nossos corações. Vamos aspirar por aquela vitória final quando todo o universo, simbolizado num imenso estádio, aclamar a Cristo, vencedor do Mal, o Senhor da História.
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