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Ecumenismo e Pentecostes
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 
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A semana que precede a festa de Pentecostes e a próxima terça-feira são dedicadas na maioria das Igrejas cristãs a oração pela unidade. Depois do grande cisma ocorrido no século XVI, agravado nos séculos seguintes pela exacerbação dos conceitos e pela lutas fratricidas, no raiar dos anos 1900, já com o Cardeal Newmann iniciava-se o movimento em busca da unidade: “A grata jornada rumo a unidade que é, com efeito a única resposta legítima à exigência do Evangelho e ao desafio da crise contemporânea”, na expressão do grande pastor luterano que  tivemos em nossa cidade, Breno Schumann, de saudosa memória.

Desejo ardente de Cristo, expresso na oração sacerdotal na qual pediu ao Pai para seus discípulos, isto é, para todas as pessoas que se encontram na convivência com ele e que nele crêem: “Não rogo apenas por eles, mas também por todos aqueles que, por meio de sua palavra, vão crer em mim, para que todos sejam um, assim como, Pai, estais em mim e eu em Vós; para que eles seja um em nós...”(Cf.Jo, 17, 20-21), o ecumenismo expressa a fé na catolicidade da Igreja e na sua missão apostólica de levar ao mundo a Luz do Evangelho.

No “Credo”, confessamos todos essa verdade a nós transmitida pelos apóstolos e por eles iniciada, de levar a todos os povos o caminho, a verdade e a vida, que não é dividida mas uma no Cristo Ressuscitado. Onde quer que for pregada a Palavra de Deus todos aqueles que crêem são a Igreja Católica e também Apostólica porque a missão do anúncio é a decorrência natural para quem se faz discípulo de Cristo.

O ecumenismo não é, pois, uma convivência social. É uma afirmação nos fundamentos que constituem a única e verdadeira Igreja, independente de denominações adjetivas, que se procura superar no afã de realizar o desejo ardente de Cristo “que todos sejam um”. A superação dessas diferenças exige a graça e a nossa cooperação. Por isso, a par dos esforços de cada comunidade há necessidade da oração em união e em seguimento à prece pontifical de Jesus.

Um tempo propício para esse pedido é este quando nos lembramos do mandamento do Senhor ao subir ao céu, de pregar o Evangelho a toda a criatura até os confins da terra e a comemoração da efusão do Espírito Santo que nos relata o evangelista Lucas.

Os apóstolos, após a morte do Salvador estavam sem ânimo e sem saber o que fazer da mensagem que dele acabaram de ouvir e presenciar. Ainda estavam impregnados de uma realidade terrestre, pensavam na restauração do reinado de Davi e do povo de Israel. Pensavam ainda como homens carnais, usando-se a distinção que São Paulo faz entre a carne e o espírito. Realizando-se então a promessa de Cristo, o Espírito Santo, sob forma de línguas de fogo desce sobre cada um dos participantes daquela pequena Comunidade unida em oração.

O Cristo ressuscitado se faz presente para eles. Não mais o Cristo que conheceram apenas na figura do Homem-Jesus, o Mestre das paragens da Galiléia, mas o Cristo na fôrça de seu Espírito, em quem os povos encontravam a unidade perdida no Paraíso. Acaba-se o medo e o fogo do Evangelho, a partir de Jerusalém, da Judéia, como ainda fala Lucas, atinge o mundo todo.

Como afirma o apóstolo Pedro na sua primeira pregação, confirmando a realização da profecia de Joel, chegara o grande Dia, o glorioso Dia de Javé, em que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.

O anúncio da Palavra traz consigo uma mudança radical da vida, uma conversão, a conversão para a vida de ressuscitados, a conversão do “homo carnalis” em “homo spiritualis”, até “que se forme Cristo em nós”.

Naquela manhã radiosa de Pentecostes, a Igreja fundada no cruz de Cristo, confirmava-se radiosa com a presença do Espírito, o enlace da Divindade.

Compreende sua missão de catolicidade e apostolicidade para anunciar a salvação a todo o universo. Todos aqueles que ouvem a Palavra e por ela recebem a vida do manancial eterno se tornam um, como disse Jesus: “Eu e o Pai somos um” e assim quis que também nos tornássemos um com Deus.

O Ecumenismo deve ser a expressão desta unidade. Superando as divisões, frutos do pecado, deixemo-nos impregnar do Espírito Santo e, unidos, pela força redentora, transformemos o mundo, antecipeme e vivamos o glorio dia de Javé.



 
 
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