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Domingo de Ramos
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 
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Dizei à filha de Sion: Eis que teu Rei vem a ti, modesto, montado numa jumenta, num jumentinho, filho de um animal de carga”(Cf. Zc 9,9). Estamos iniciando a Semana Santa, a Semana Maior, como conhecida na liturgia, quando recordaremos os acontecimentos que culminaram na morte e ressurreição do Senhor.

Neste primeiro dia da semana, Jesus ao chegar a Jerusalém foi recebido pelo povo em festa. Ao entrar na cidade, montado em uma jumenta, com um jumentinho a ela atado, o povo lança palmas e ramos de oliveira  à sua passagem e estende seus mantos. Em coro, aclamava o Filho de Davi que vinha em nome do Senhor para libertar o seu povo.

Esta cena poderia ser vista e entendida como um simulacro da glorificação de um príncipe que retorna de uma guerra, vitorioso, com os despojos do inimigo e era aclamado como herói. Nada mais distante.

O que se viu naquela manhã, e que vamos celebrar neste domingo, é um reflexo da verdadeira glória que fora antecipada no sermão da montanha. Bem aventurados os puros, os simples de coração, porque viam a glória de Deus. Os grandes da terra lá não estavam, longe daquela festa porque sempre opositores daquele Mestre que tinha palavras de vida eterna.

Quando chegou nas cercanias de Jerusalém, em Betfagé, Jesus  mandou dois de seus discípulos pegarem os animais com uma simples expressão:”Dizei ao seu dono: o Mestre precisa deles” (Cf. Mt.21.3). Não eram os vistosos cavalos que serviam aos príncipes, mas animais de carga, sofredores, como o povo que vivia oprimido sob o tacão dos poderosos. Não vinha em séquito militar, mas, na gloriosa marcha que antecipava o seu triunfo sobre o pecado e a morte.

As palmas, canta-se nesta liturgia, significam o triunfo do Senhor sobre o príncipe das trevas e os ramos de oliveira, o advento de uma unção espiritual que, pela ação do Espírito Santo de Deus, nos sagrará sacerdotes, profetas e reis da nova criação, em que nosso fim não será a morte, mas a vida eterna, adquirida pela paixão e ressurreição de Jesus.

Narra-nos o Evangelho de São Lucas (Cf. Lc 19,41) que chegando perto de Jerusalém, Jesus chorou sobre a cidade, que pelos seus chefes não conheceu o tempo de sua visitação e São João (Cf. Jo 12,20-27), no episódio dos gregos que estavam estupefactos diante do acontecimento, Jesus revela o mistério da sua morte e da glória que gozarão aqueles que o seguirem.

Ao chegar ao Templo, Jesus mostra o seu poder, de lá expulsando os vendilhões e curando os coxos e cegos. Questionado pelos sumos sacerdotes que se indignaram com o coro das crianças que o saudavam: “Hosana ao Filho de Davi” (Cf. Mt.21,16), Jesus  lhes responde, confundindo-os, com o texto do salmo 8,3: “Nunca lestes que da boca das crianças e dos que ainda mamam obtiveste louvor”

A riqueza da mensagem destes acontecimentos devem nos levar a uma reflexão profunda sobre o amor de Deus e a nossa correspondência a este amor. Deus é amor que se doa totalmente até a aniquilação de Cristo, mas que deseja correspondência, como nos lembra o Sumo Pontífice Bento XVI na sua exortação queresmal. Não sejamos insensíveis diante dos passos de Cristo nesta semana

Na simplicidade de nosso coração, entoemos junto com os filhos dos hebreus os hosanas na antecipação do aleluia que brotará de nossa alma rejuvenescida pela água e sangue nos sacramentos do batismo, cujas promessas vamos renovar e no mistério eucarístico, memorial atual e vivo do Cristo morto e ressuscitado.



 
 
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