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Ser livre para amar o inimigo
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 
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No Evangelho deste Sétimo Domingo do Tempo Comum,(Cf. Lc 6, 27-38) Jesus nos chama a um ideal mais pleno, mais radical: AMAR O INIMIGO. Não há nada mais evangélico do que esta máxima de Lucas, certamente difícil de ser colocada em prática. Este ideal pressupõe naturalmente um uso da liberdade muito maduro: ser livre para amar não como eu quero, mas como Deus quer que nos amemos. Sem condições.

A partir da Ressurreição de Cristo e através dela o homem pode realizar este ideal, pois aí está a ESPERANÇA para tudo o que fazemos(Cf. 1Cor 15, 45-49). Amar a partir da Ressurreição é, na linguagem paulina e lucana, possuir uma carne nova, um corpo novo, é viver na força do Espírito que nos confere a graça para realizarmos este ideal evangélico do AMOR RADICAL, sem condições.

Amar quem nos ama, quem nos elogia, quem nos prestigia, é muito fácil. Todo jogo dos interesses passa por este tipo de relação. Mas amar quem nos prejudica, quem nos amaldiçoa, quem não corresponde às nossas expectativas, é mais difícil e impossível sem a graça de Deus. Por isso, antes de tudo, temos que viver o Intróito da Missa deste Domingo para depois vivermos o que nos pede Jesus no Evangelho de Lucas: “Domine, in tua misericórdia Speravi”. (Cf. Ps 12,6) “Senhor, esperei na Tua Misericórdia”.(Cf. Sl. 12,6).

Esperar na misericórdia, nos diz o Salmista, é exultar pela Salvação, é cantar por tudo o que se nos acontece. O Salmo de Meditação após a Primeira Leitura (Sm 26,2.7-9.12-13.22-23) no-lo faz conhecer, atestar, confirmar. Misericórdia e Graça são as prerrogativas do nosso Deus(Cf. Sl. 102).

É com esta Esperança do Salmo 102 que conseguimos ser plenamente livres para amar sem condições; é com este amor que somos verdadeiramente livre para imitarmos Aquele que nos amou de forma irrestrita e irrevogavelmente nos salvou. Jesus não só pregou o amor, mas Amou os seus que estavam no mundo, e os amou até o fim(eis télos) (Cf. Jo 13,1).

Assim o Cristo instaurou para nós a Nova Criação para nós, a nova Criação e este é o ideal para o qual somos hoje convocados: amar criativamente, como Deus quer. Criar um mundo novo a partir deste Amor incondicional, radical, universal.

Como Cristo se torna o Novo Adão, também nós o tornamos, como nosso Amor. Esta é a vida Nova e a beleza do cristianismo que não existe em nenhum outro lugar.



 
 
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