Amar a todos com verdadeira caridade |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
|
Leia os outros artigos |
|
Concede nobis, Domine Deus noster, ut te tota mente veneremur, et omnes homines rationabili diligamus affectu.
Concedei-nos, Senhor nosso Deus, adorar-Vos de todo o coração e amar todas as pessoas com verdadeira caridade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
(Oração do Dia, IV Domingo do Tempo Comum)
Neste IV Domingo do Tempo Comum, somos convidados a pensar na “verdadeira caridade” com que devemos amar nossos irmãos. São Paulo nos ensina que a caridade é superior a todos os outros dons.
Na verdade, segundo o Apóstolo, é “um caminho incomparavelmente superior”, superior ao dom de línguas, ao dom de profecia, ao dom dos bens aos pobres. A caridade é o dom que o Apóstolo nos aconselha a aspirar, a desejar. Mas parece que nos dias de hoje este dom não interessa tanta ou nada.
Parece que está se cumprindo o que Jesus nos disse em Mt 24,12: “A maldade se espalhará tanto que o amor de muitos esfriará”. Não deveríamos nos empenhar mais em buscar este amor que é paciente, benigno, não se encoleriza? Os primeiros cristãos eram conhecidos pelo amor que tinham uns pelos outros.
Santo Atanásio diz sobre Santo Antão, pai dos monges: “E em todas as pessoas notou especialmente a devoção a Cristo e o amor que tinham umas pelas outras”. Este amor que unia a comunidade primitiva foi a principal característica dos cristãos nos primeiros séculos.
E é, de fato, o único mandamento que Jesus nos deixou. Por que hoje corre-se tanto atrás de carismas, dons, curas, cargos, funções, poder? E não se esforça em buscar o amor, o verdadeiro e autêntico amor? O que vemos em nossas comunidades? Pessoas que se tratam mal, que são grosseiras, que se “machucam” com qualquer coisinha e descarregam sua ira ou o seu ódio no primeiro que encontram.
Nunca se falou tanto no Espírito Santo, que é Amor, e, no entanto, parece que nunca vivemos um período tão violento. E violência não é apenas aquela que vemos nos noticiários sobre seqüestros, assaltos, mortes. Violência é tratar o outro mal, é ser grosseiro, é ser impaciente, é ser colérico. A violência está dentro de nossas casas, de nossas igrejas, de nossas escolas. É o pai tratando o filho mal, é o padre gritando com os seus fiéis, é o professor ridicularizando o aluno.
Todos nós temos que fazer o nosso exame de consciência. A responsabilidade é de todos e de cada um. Todos nós temos que crescer no amor, este amor que é bondade para com o outro, que é paciência, mansidão, que “tudo suporta”.
A graça que Jesus conquistou para nós é para isto: crescer no amor. Não para colecionarmos cargos, funções, dons, carismas. E quantas pessoas conhecemos que vivem melhor o amor e não pertencem às nossas comunidades? Que homem bondoso foi Gandhi? Que pessoa maravilhosa e gentil é Thich Nhât Hanh! E o Dalai Lama, que bondade, gentileza e alegria!
Quantos não cristãos vivem a compaixão, a misericórdia! E nós, o que fazemos com a graça de Deus? É isto que Jesus nos diz e mostra no Evangelho. Elias e Eliseu levam a graça de Deus a pessoas fora da comunidade de Israel, porque em Israel as pessoas não estavam abertas à graça de Deus.
Também Jesus não encontrou em sua cidade pessoas abertas à graça de Deus. Não estaremos nós, em nossas igrejas, clamando ao Espírito Santo, com os braços erguidos, enquanto a graça de Deus age em algum outro lugar?
Em Mt 24,13, Jesus nos diz: “Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo”. Jesus está falando de traição, de ódio, do amor que esfriará. Mas quem perseverar até o fim...
Perseverar o quê?
Perseverar no amor... até o fim, suportando tudo, crendo em tudo, esperando tudo; amando amigos e inimigos, quem nos ajuda e quem nos prejudica; tratando a todos com igual carinho e delicadeza. Viver o amor nos dias de hoje é ser profeta, como Jeremias, escolhido desde o ventre materno para viver com fortaleza o chamado de Deus diante de todos e de qualquer um – o chamado do AMOR.
|