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Reinado da Verdade e da Misericórdia!
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 
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Poder e Verdade são duas realidades que podem andar juntas ou não. O poder desafinado da verdade é orgulho, é pecado. A verdade só se afina com o poder quando é, de fato, a realidade que se nos impõe, independentemente de qualquer interesse. Dá-se, então, o poder da verdade com toda sua autoridade.

Na vida, há verdades que conhecemos e aprendemos. Mas todas as verdades deveriam se orientar para a Suma Verdade, para a Verdade das Verdades, ou seja a Verdade de Deus que nos liberta de fato e plenamente. A Verdade, por excelência, nos foi comunicada no Quarto Evangelho, no versículo 14º. do Prólogo: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós”.

Este é o sentido último da Festa de Cristo Rei: o poder absoluto de Deus de se fazer um dentre nós, de assumir nossa carne em tudo, a tal ponto de não existir mais situação humana que não tenha sido vivida por Deus. Esta certeza nos torna realmente livres.

O evangelho deste último domingo do Ano Litúrgico(Cf. Jo 18, 33b-37) nos chama a atenção para o Messianismo verdadeiro de Jesus que não é deste mundo, que não se insere na grandiosidade, que não se projeta na inconsistência da fumaça, da vaidade, do orgulho, mas é por excelência humildade, condescendência, misericórdia.

Esta é a verdade da qual fala Jesus no Quarto Evangelho e para dar o seu testemunho Ele veio. Testemunhou-a em sua própria carne, tornando-a visível para todos nós. Por isto mesmo seu Reinado pode nos atingir inteiramente.

Ele é Rei porque se fez nosso servo, lavou nossos pés, curou as nossas feridas, conduziu-nos ao aprisco como Bom Pastor. “Todo aquele que é da verdade escuta a sua voz”.(Cf. Jo. 18,37) Ora, não podemos escutar a voz do Bom Pastor senão sendo ovelhas dóceis. Não podemos seguir o Mestre senão imitando-o. Se Ele nos amou até o fim, devemos também fazê-lo, se Ele se humilhou também nós devemos segui-Lo.

Se Ele morreu por nós, também nós devemos morrer por nossos irmãos. Não podemos, portanto, medir nossos irmãos com as nossas medidas, às vezes, mesquinhas, calculadas, pequenas, mas com a medida do Cristo, isto é, com a medida com a qual o Cristo nos mede. Ele nos dá o exemplo com sua própria vida. Seu Reinado é sua condescendência conosco.

Não temos outra forma de reinar, de exercer o “poder da verdade”.

Santo Agostinho nos diz que Deus se humilhou “descendo” e o homem ainda quer ser soberbo. Não! Que possamos entender esta lição de Jesus na Festa de Cristo Rei!



 
 
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