Colunas
 
A vida na caridade: As Bem-Aventuranças
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 
Leia os outros artigos
 

Santo Agostinho nos ensina em frase lapidar; Aquele que te criou sem ti, não te salvará sem tiChegamos ao fim do ano e temos meditado nestes dias sobre a esperança que deve nutrir o nosso coração  marcado pela fé em Cristo no qual temos a salvação e a vida.

Mas, São Tiago nos fala com clareza apostólica que nossa fé é manifesta pelas obras que praticarmos na observância do mandamento do Senhor: Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros,”(Cf. Jo. 13,34), e explicita esta vivência nos atos de cada dia.

São Mateus, descrevendo em linguagem apocalíptica, o julgamento final da humanidade, não tem outro termo. Receberemos a coroa da glória que nos está reservada se tivermos acolhido nosso irmão com o mesmo amor com que Cristo nos amou.

Como poderíamos negar validade ao ensinamento de São Tiago, como infelizmente fazem alguns de nossos irmãos, se em consonância perfeita com o Evangelho? Somos santificados pela graça, mas teremos a glória de nossa correspondência a esta graça.”Quando deres uma festa, chama os pobres, estropiados...serás recompensados na ressurreição dos justos”(Cf.Lc 14, 13)

Um é o brilho do sol, outro o brilho de cada estrela. Assim também é o brilho de cada bem-aventurado na resposta que tenha dado à graça que recebeu. E esta resposta se dá quando deixa transbordar o amor de Cristo que tem em seu coração na acolhida ao seu irmão.

Vinde benditos de meu Pai...pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro  e me recolhestes. Estive nu e me vestistes.doente e me visitastes, preso e viestes me ver.”(Cf. Mateus 25,35) Como a humanidade está  precisando desta acolhida! Há um abismo que separa a imensa multidão dos que sofrem a fome, a doença, a miséria e um punhado que se locupleta com as riquezas da iniqüidade e “não estão nem aí” para os irmãos, nem mesmo os do mesmo sangue da mesma pátria. Como ficarão no Dia do Senhor?

Pela manhã, quando abrimos os jornais sentimos o sangue e a vida escorrerem de suas páginas. Triste, termos visto nesta semana duas vidas jovens se esvaírem pela futilidade da moda. Tantos outros se matarem por um punhado de dólares que representa um ponto de droga. Políticos se esquecerem tão cedo das promessas de campanha e continuarem na vergonhosa busca dos seus interesses pessoais. Deus estaria presente em tudo isso? Não, porque aí não há o amor.

Agora, sem o estardalhaço da “mídia”, temos também os exemplos escondidos dos que morrem pelo amor. Há pouco mais de duas semanas, em Moçambique, foram martirizados um jesuíta brasileiro e uma jovem portuguesa que deixaram tudo, pátria e patrimônio, uma bela carreira jurídica e foram doar o seu coração aos irmãos.

Deveríamos, nós que temos fé e que esperamos na misericórdia do Senhor, repensar nossa vida em vista da caridade. Não é fácil. Jesus mesmo o disse em resposta aos seus discípulos. E acrescentou que se isto é impossível para os homens não o é para Deus (Cf. Mc. 10,27). A caridade e o amor encobrem uma multidão de pecados.

Aguardando o Dia do Senhor em sua glória, procuremos viver as bem-aventuranças, Por elas mostraremos a nossa fé e a nossa esperança no Senhor Jesus.



 
 
xm732