Maria Clara Bingemer, em seu artigo semanal no Jornal do Brasil, citou Charles Peguy, um escritor francês, do século passado, católico, que chamava a ESPERANÇA de a “a filha menor do bom Deus” e que, assim como os fiéis, na liturgia, passavam de mão em mão a água benta, deveríamos passar, de coração a coração, a esperança.
Recordamos, nesta semana, duas festas que nos falam da esperança e fortalecem nosso espírito assegurando a realização do nosso destino, da fé depositada em nossa vida pelo batismo. Aliás, todo o mês de novembro é dedicado pela piedade cristã a este pensamento.
As festas de Todos os Santos que celebramos no dia primeiro deste mês e, liturgicamente, no Brasil, no próximo domingo e de Finados nos lembram o ensinamento do Apóstolo Paulo: “A esperança não decepciona porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Cf. Rm. 5,5)
No dia de Finados, diante de seus túmulos, choramos nossos entes queridos. Mas sabemos que lá não estão, lembrava P. Claudel. Respeitamos sua morada no tempo, os restos mortais dos seus corpos, morada do Espírito Santo e que, semeados na corrupção da carne ressuscitarão no corpo espiritual, na plenitude da idade e medida do Cristo glorificado.(Cf. 1 Cor. 35)
Recordamos a cultura que nos legaram, sobretudo a fé e a piedade, carinhosamente inseminada em nossos corações e mentes desde a infância, quando nos seus colos, hauríamos, com o leite materno, os rudimentos da Palavra de Deus e, com eles aprendíamos a ser homens e mulheres de valor. É um dia e são momentos de gratidão e de fé que não podemos deixar cair no esquecimento a que a folga dos feriados nos leva.
A esperança que nutrimos de que o Pai os tenha recebido em seu seio como, outrora, a Lázaro deve-nos levar também a contemplar a glória celeste que a Igreja nos ensina nela já viverem os santos e a ela aspirar por uma vida em busca da santidade.
Eles depositaram sua fé no poder de Cristo. Acreditaram na sua ressurreição conformando suas vidas com a cruz redentora: “Eu sei em quem acreditei e estou certo de que Ele tem o poder pára guardar o meu Depósito até aquele Dia.”(Cf. 2 Tim. 1,2)
E porque acreditaram, abriram suas vidas aos preceitos evangélicos. Sua fé se traduzia em obras na caridade. São Beda, o Venerável, Doutor da Igreja, nos concita a seguirmos seus exemplos; “a inocência na simplicidade, a concórdia na caridade, a modéstia na humildade, a diligência no serviço, a presteza em ajudar, a misericórdia no atendimento aos pobres e a constância na defesa da verdade” (Cf.Sermão 18, sobre os Santos)
Por nós mesmos não somos capazes de alcançar esta glória, de conseguirmos a nossa salvação. Nossa esperança, como a dos santos, é fundada na justificação pela fé em Cristo. E´nele que temos a esperança da ressurreição e da vida, a nossa segurança (Cf. 2Cor. 3,12; Heb. 3. 6)
É nessa fé e pelos méritos de Cristo que recebemos a força de deixar os desejos da carne e aspirar os dons do espírito. É por seu Espírito Santo que, ainda nas vicissitudes desta vida, já podemos antecipar a vida na cidade celeste.
Há poucos dias, do alto da serra, pude contemplar a maravilha da natureza naquela noite cheia de estrelas. Veio-me, então a mente, a descrição do Apocalipse, a Jerusalém celeste e sua glória que descia do céu.
Curvei minha fronte. Por mim mesmo achava-me indigno de a contemplar e, muito menos, de nela entrar . Lembrei-me, então de um texto da Imitação de Cristo que nos ensina que há uma ponte segura para isso, a Paixão e a Cruz do Senhor. Pelo Sangue Redentor, podemos esperar no Dia nela ingressar e, com todos os santos, cantar o hino de louvor e ação de graças ao Deus que era, que é e que vem, pelos séculos sem fim.
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