Servir – o ideal missionário |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
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Numa das Campanhas da Fraternidade, cantava-se: “Vamos servir, Jesus manda servir./ Ele serviu ao Pai e a seus irmãos./ Vou acolher, Senhor, tua palavra,/ seguir o teu exemplo.”
No Antigo Testamento, lemos texto de Isaías na figura do Servo Sofredor. Jeremias prefigura, em sua vida, o serviço. Em Jesus, resplandece a realidade. “O Filho do Homem veio para servir e não para ser servido”
Já no início de sua vida, como narra a Carta aos Hebreus (cap. 10), sabendo que sacrifícios e holocaustos de bois e carneiros eram apenas figura, Ele disse: “Eis que venho, ó Pai, para fazer a tua vontade.”
Nos seus ensinamentos aos discípulos, o serviço aos irmãos era prioritário. Quando levava-os a descansar, era no recolhimento da oração e da contemplação ao Pai.
E, antes de dar sua vida, por nós, na cruz, num ato de supremo serviço e obediência, na véspera de sua paixão, inclinou-se diante de seus discípulos e lavou-lhes os pés. “sabeis o que fiz, eu o Meste e Senhor?...Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também o façais.” (Cf. Jo. 13, 12-15)
A vida missionária nos empolga na pregação, no levar a mensagem de vida aos irmãos. Mas, nisso pode haver o perigo de nos deixarmos induzir pela vaidade, de pregar a nós mesmos e não a mensagem evangélica, sobretudo com a exposição que nos facilitam os modernos meios de comunicação.
Já o Apóstolo suplicava aos fiéis que por ele orassem, afim de que tendo-lhes levado a fé e a palavra da salvação não fosse ele induzido à vaidade e sujeito à condenação.
Por isso, num dos últimos artigos que escrevi, insisti na vida espiritual onde podemos aprender que a missão é serviço para a glória de Deus. “A vida espiritual é a alma de todo o apostolado”, ensinava D. Columba Marmion.
Ninguém pode dar o que não tem. Como anunciaremos a graça e a misericórdia do Senhor, se delas não nos nutrirmos na oração e na contemplação do mistério do amor de Deus?
Quando as multidões, admiradas pela pregação do Reino, queriam fazer de Jesus Rei, o Messias glorioso que expulsaria os Romanos e restauraria o reinado de Davi, Ele saía da sua presença e recolhia-se no silêncio junto ao Pai.
E, na tentação do deserto, quando o demônio lhe ofereceu todo o poder do mundo, a resposta do Mestre foi a do serviço: “Adorarás ao Senhor, teu Deus e só a Ele servirás.” (Cf. Mt.4,10)
O missionário tem de ser uma ponte de comunicação. Leva a graça e também por ele passa o retorno do pedido de misericórdia do povo. Abraão intercedeu por Sodoma e Gomorra com todas as suas forças e argumentos.
Moisés, quando Javé queria destruir o povo hebreu por sua ingratidão, clama por ele do fundo do seu coração e chega até a dizer “que falarão as nações de ti?”. Cristo igualmente, nos dias de sua vida, apresentou veementes clamores e suplicas àquele que o podia livrar da morte e foi atendido “por sua submissão” e tornou-se para todos princípio de salvação eterna. (Cf.Hb. 5, 7-10)
É comovente como o povo confia no missionário. Torna-se realidade o que cantamos antes do Evangelho em nossas missas: “Como são belos os pés dos missionários, dos que evangelizam a paz”.
Dos que se abrem ao serviço de todos, seja nos leprosários, no beijo das chagas dos enfermos, no atendimento aos que estão deitados nas sargetas de nossas ruas ou dos corações empedernidos que não querem se abrir ao amor, ou daqueles que têm tudo mas não tem a paz do espírito.
Dos que têm sede e fome de justiça e não têm quem lhes abra o tesouro da Boa Nova.
Um dos exemplos de missionário que vimos em nossos dias, foi D. Luciano Mendes de Almeida, Arcebispo de Mariana e cujo coração abrangia o mundo. Todos sabíamos dos seus atrasos nas solenidades, dos seus olhos cerrados mas espírito atento nas conferências. Por que isso ocorria?
Agora, refletindo sobre aquela vida, podemos saber. Era porque reputava o serviço aos irmãos como o maior dom do padre e do cristão. “Em que posso servi-lo?” Era a humilde e amável resposta a que o procurava. E aí perdia-se o tempo na eternidade do encontro a três, dele, de quem o procurava e do Coração de Deus.
Deixo para todos esse exemplo de vida missionária. De quem, como Jesus, não tinha uma pedra a servir-lhe de travesseiro, porque sempre à disposição de todos, ao serviço de todos por amor. “Vamos servir, Jesus manda servir...” e assim obedeceremos ao mandato do Senhor de anunciar a todos os povos a salvação.
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