A Biblia dos pobres – O Rosário da Virgem Maria. |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
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O título deste artigo nos obriga a remontarmo-nos à história da civilização no período chamado das invasões bárbaras, por volta do século V até a invenção da imprensa no século XV. O Império Romano, o gigante de pés de barro da profecia de Daniel, apodreceu na degradação dos costumes e a fortaleza do seu passado ruira pelos vícios da riqueza e do poder, de que São Paulo já falava na sua Carta aos Romanos.
E quando numa noite gelada do ano de 491, o Rio Reno se congelara e a fome apertava os povos do norte europeu, os Bárbaros o transpuseram e não encontraram resistência dos exércitos romanos, já então comandados por generais de origem bárbara, na falta da fibra romana.
Para esses Bárbaros, a cultura nada valia. Foi quando os monges de São Bento fugiram para a Irlanda, levando o que podiam para salvar as bibliotecas e a cultura antiga. A Europa mergulhou nas trevas e na ignorância até o século IX, quando, sob Carlos Magno, retornaram da Irlanda os formadores da nova cultura européia que floresceu na Idade Média alta e gerou as descobertas modernas, do Novo Mundo e das novas idéias.
O rosário e as catedrais medievais, durante este tempo transmitiram a fé e a conservaram. O primeiro na recordação e meditação diária do querigma apostólico, do mistério da redenção, fundamento de toda a pregação desde a aurora da Igreja: o Cristo, Filho de Deus, a cruz redentora e a sua ressurreição gloriosa e, nas catedrais, os quadros do antigo testamento e da vida de Cristo, inclusive nas representações cênicas.
E, pergunto, por que não a Bíblia? Em primeiro lugar, por uma questão de fato. O latim desaparecera da linguagem vulgar que começava a se formar e somente se consolidaria na idade média alta com as línguas modernas. O povo era praticamente analfabeto. O anúncio e a conservação da fé somente era possível pela pregação e pela reflexão meditada da palavra de Deus.
A Bíblia era estudada, lida nos mosteiros e pelos letrados. A Igreja, com cuidado e amor, com a ciência a conservava e a transmitia ao povo. Não havia a imprensa e a conservação e multiplicação do Texto santo se fazia manualmente pelos copistas. Para o povo, porém, somente métodos orais e de reflexão seriam possíveis.
Para nós, hoje, é difícil conceber isso, a tradição oral. Mas,lembremo-nos, a própria Escritura é a transcrição da tradição oral, sobretudo do Antigo Testamento.
Se temos hoje a Bíblia é graças a todo esse trabalho da Igreja, que continua o seu estudo e aperfeiçoamento das traduções e interpretações.
O fundamento da fé que nos salva é o mistério redentor de Cristo. Isso não é só conhecimento (São Paulo diz: a ciência incha). É vida. Assim, quando rezamos o rosário, e deveríamos fazê-lo todos os dias, fazemos um ato de fé, com todas as suas conseqüências.
A confiança em Deus, que nos atende, sobretudo por intercessão de Maria, que nota a nossa fraqueza e intercede por nós como pediu para os noivos nas bodas de Cana. O contraste de nossa vida com as exigências dos mistérios que contemplamos. O amor de Deus que nos deu seu Filho por quem seremos salvos e glorificados no seu Espírito que permanece entre nós.
O rosário não é, portanto, uma oração ultrapassada, coisa de pessoas menos cultas (como se não fosse destes o Reino de Deus!) Pelo contrário, uma oração vigorosa, uma oração vocal, pela qual clamamos ao Pai, uma oração mental porque nela nos mergulhamos na contemplação do amor divino.
Mês de outubro, mês dedicado a Virgem do Rosário, quando nos lembramos da proteção de Maria à santa Igreja e à civilização cristã. Vamos rezar o rosário e pedir pela Igreja e pelo Santo Padre diante de tantas ameaças que nos cercam e que o cercam. Vamos implorar a paz, que só encontraremos na vivência da fé e no amor a Deus e ao próximo.
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