A luz nas trevas |
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG. |
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O recenseamento ordenado pelo imperador era instrumento de dominação, já que possibilitava saber quantas pessoas poderiam pagar o tributo. Dentro dessa situação, nasce Jesus, o Messias, que, desde o primeiro instante de sua vida se identifica com os pobres.
Os primeiros a receber a boa notícia são os pobres e marginalizados, representados pelos pastores, que eram desprezados porque não tinham possibilidade de cumprir todas as exigências da Lei. É para eles que nasceu o Salvador. E eles são os primeiros a anunciar a sua chegada.
A celebração do Natal de Jesus não esconde os contrastes. Os pais foram forçados pelo Império a uma longa e penosa viagem. Quando chegaram em Belém, enquanto muitos divertiam, não havia hospedagem para eles. Mesmo assim, aquela foi uma noite de glória e de luz. Os pobres e humildes receberam a revelação que Israel esperava há séculos!
Deus entra na história do ser humano por meio de uma mulher marginalizada. Celebrar o Natal é fazer memória dos eventos libertadores do nosso Salvador, Messias e Senhor. Jesus nasce no meio de pobres, migrantes, pastores, enfim, encarna-se na realidade dos que sofrem para remi-los. Jesus é o Salvador porque traz a libertação definitiva.
Ao descrever o nascimento de Jesus, Lucas estabelece um paralelismo com a morte e ressurreição do Messias. De fato, em um trecho, ele diz que “Maria enfaixou Jesus e o colocou na manjedoura”; em outro trecho de Lucas, ele afirma que “José de Arimateia enfaixou o corpo de Jesus e o colocou num sepulcro”.
Este é apenas um exemplo. O importante é notar a preocupação do evangelista: ele descreve o nascimento de Jesus à luz do evento central de nossa fé. Seu nascimento é já anúncio de sua morte e ressurreição.
Concluindo, o Evangelho da missa da vigília de Natal mostra que o Salvador é pobre e se comunica a seu povo como pobre: “Vocês encontrarão um recém-nascido envolto em faixas e deitado na manjedoura”. Deus utiliza a linguagem dos empobrecidos, dos migrantes e rejeitados da sociedade. A salvação entra na história da humanidade com as características do povo, longe dos palácios e dos berços dourados. O modo de nascer do Salvador já é comunicação perfeita daquilo que irá realizar em vida: a glória de Deus e a paz para as pessoas de sua predileção. A glória de Deus é sua ação na história e esta ação irá concretizar a paz para o povo no meio do qual Ele optou nascer.
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