No deserto, enquanto Moisés e o povo escolhido caminhavam rumo à terra prometida, um jovem levou a Moisés a notícia de que dois homens profetizavam no meio do povo.Josué que o servia, disse ao Profeta: Meu senhor, ”proíbe-os”. Moisés respondeu: “Estás com ciúmes por minha causa? Oxalá todo o povo de Javé fosse profeta, dando-lhe Javé o seu Espírito”. (Cf. Num 11,29)
São Marcos, no Evangelho nos relata episódio semelhante, quando o Apóstolo João disse a Jesus que vira alguém expulsando demônios em seu nome. E o Mestre respondeu: “Não o impeçais, pois não há ninguém eu faça um milagre em meu nome e logo depois possa falar mal de mim. Porque quem não é contra nós é por nós”. ( Cf. Mc. 9, 38-40).
Com temos necessidade nos nossos dias, tão trágicos, tão difíceis, de profetas. Como precisamos que o Espírito de Deus desça sobre homens como Moisés, Elias, João Batista! Como o próprio Cristo, o Verbo de Deus!
Ora, sabemos que, pelo Batismo, o Senhor nos infundiu o seu Espírito, fazendo-nos participar do dom profético de seu Filho. E porque não profetizamos? E porque não ouvimos a voz de Deus que, pela fé, nos manda clamar, “arrancar e destruir, edificar e plantar”?(Cf Jr. 1,10) Oh, se vivêssemos o nosso batismo!
A evolução do homem e da civilização trouxe desafios à nossa fé. A ciência e a técnica a cada momento nos põe diante de novas realidades que temos de ordená-las à luz do destino eterno da humanidade.
O mesmo se dá com a evolução dos costumes e com os fatos sociais. Tudo isso é crescimento do homem em vista de sua realização. Mas, também tem a presença do pecado e do mal, inerente a toda ação humana.
Isso não é razão para rejeitar o pregresso e o desenvolvimento. Pelo contrário, mais se faz urgente a voz do profeta, para arrancar a erva daninha que grassa junto com o bem e com a riqueza das novas descobertas e da floração da liberdade e enriquecimento social.
E mais ainda, para edificar, isto é, para que o cristão seja membro ativo desta evolução em todos os campos, na técnica,na ciência e na sociedade.
Temos o péssimo costume de exigir para o exercício deste profetismo a presença da Igreja, como sendo bispos e padres. A Igreja instituição, da qual esquecemos de que também fazemos parte. Não há dúvida de que o depósito profético da fé foi confiado aos pastores, aos quais cabe, a orientação da Barca, da qual Pedro é o timoneiro.
Mas, essa missão é nossa, de leigos engajados na busca e defesa da verdade, nos campos do desenvolvimento da civilização no seu mais amplo sentido. Aos Pastores cabe incentivar-nos e não nos tolher nessa tarefa que, como ensina a Constituição Conciliar –“Apostolicam Actuositatem”, é própria do cristão.
Muitas vezes, nós mesmos, leigos, entendemos o nosso profetismo e o nosso múnus sacerdotal como devendo ser clericalizados. É verdade, temos também nossa obrigação de participação no culto. Mas não como clérigos. A missão que nos foi confiada pelo batismo é levar a santificação das coisas criadas, às novidades, frutos da inteligência e operosidade da humanidade.
E como é vasto esse campo. Como os homens anseiam para que seja ele orientado para a Verdade e para o Bem, para que sirva a todos e não seja patrimônio de apenas alguns.
Para que nele não se destruam valores e que seja realmente o florescer da inteligência na realização da humanidade, na busca do homem novo, restaurado na sua dignidade de filho de Deus.
Aspiremos como Moisés, aspiremos como o próprio Cristo pelo profetismo: - oxalá todo o povo de Deus fosse profeta.
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