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O próximo
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 
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O 15º. Domingo do Tempo Comum nos apresenta uma grande pergunta: Quem é o meu próximo?

A própria Escritura Sagrada nos apresenta os Mandamentos de Deus que não são uma coleção de prescrições impostas, que tolhem a nossa liberdade e prejudicam a nossa realização pessoal. Pelo contrário, os mandamentos de Deus correspondem aos anseios profundos da pessoa humana e se constituem o caminho seguro, que nos conduz à Felicidade eterna desejada. E Deus inscreveu esses preceitos em nosso próprio coração.

Por isso no Evangelho de Lucas(cf. Lc 10,25-37)  Nosso Senhor Jesus Cristo nos aponta o caminho da vida eterna, respondendo a duas perguntas de um Mestre da Lei: 1. "Que devo fazer para alcançar vida eterna"? 2. “E quem é o meu próximo?”.

Respondendo a primeira pergunta o que devo fazer para alcançar a vida eterna Jesus questiona o Mestre da Lei: "O que diz a Lei?" Ele resume os 613 preceitos em dois:  o Amor a Deus e o Amor ao Próximo. (Dt 6,5; Lev 19,18). Jesus concorda: "Respondeste bem... Faze isto e viverás". E ele insiste com a segunda pergunta: "E quem é o meu próximo?" No tempo de Jesus, "próximo" era o membro do Povo de Deus; excluíam os inimigos, os pecadores e os não praticantes. Jesus responde não com uma definição, mas com um exemplo prático, com a maravilhosa Parábola do BOM SAMARITANO que nos é necessário relembrar.

Um homem é assaltado por ladrões que o deixam jogado meio morto à margem da estrada.  Ali passa um SACERDOTE, que sabe tudo sobre a Lei:

vê o homem jogado, mas vai adiante. Em seguida passa, também, um LEVITA, que trabalha diariamente no templo, mas não sabe nada de Deus: não tem misericórdia para aquele homem.  Vê o homem e vai em frente. Por fim, passa também um "SAMARITANO" que não sabia tão bem a Lei de Moisés. Esse "pagão" sente "compaixão" (sentimento próprio de Deus). O samaritano supera a hostilidade entre judeus e samaritanos, esquece seus negócios, seus compromissos, seu cansaço, o medo, aproxima-se dele, derrama óleo e vinho nas feridas. Depois o coloca em seu animal e completa os cuidados na pensão. E Jesus concluiu: "Vai e faze tu o mesmo".

Fica claro na leitura deste Evangelho que a Vida eterna é encontrada no Amor a Deus, concretizado no Amor ao Próximo. Para ter a vida devemos fazer de quem está perto de nós o nosso próximo. O nosso PRÓXIMO é todo irmão, que necessita de nossa ajuda e de nosso amor. Por isso, mais importante do que saber quem é o "próximo", é tornar-se próximo de quem precisa. Estar junto do PRÓXIMO é quem age com misericórdia e compaixão e não com os julgamentos desta sociedade hedonista, violenta, agressiva, que mata por prazer e por dinheiro e que patrulha a vida de todos num verdadeiro estado policial que até dentro da Igreja as amizades entre seus membros muitas vezes são incompreendidas por interesse menores e por preconceito velado de outros interesses que não são o de Cristo.

Nós devemos começar a ver o próximo de dentro da própria estrutura eclesiástica, quando os superiores devem olhar os seus súditos como irmãos e não como funcionários ou empregados.

Cristo foi o verdadeiro Bom Samaritano, que antes de ensinar a Parábola a fez realidade em sua vida acolhendo a todos. E ele nos convida: "Vai e faze tu o mesmo..." Esse gesto é um aspecto fundamental da missão da Igreja.

Ainda hoje, há pessoas à beira das estradas, assaltadas pela violência ou opressão, vigiadas em seu ministério e em sua ação pastoral pelas patrulhas modernas, cibernéticas, opressoras, eivadas de olhares que não são os olhares de Cristo que nos ensina a acolher o pecador e não matá-lo, não exclui-lo da seara da Igreja, porque  Jesus veio ser  misericórdia para quem precisa de médico.

Nesta semana, na última terça-feira, eu senti muito efetivamente quem é o meu próximo mais próximo ao sepultar a minha sobrinha Karine Romano, repentinamente chamada por Deus no auge de sua vistosa juventude de 23 anos. Muitos foram próximos na ternura, no abraço, no velório, no enterro, na visita, na oração, na coroa de flores, no email, na carta, no telefonema, no telegrama, na presença física ou espiritual. A todos os que foram meus irmãos, o meu próximo, nestes dias de sofrimento para mim e para a minha irmã Gilcê, avó de Karine, quero dizer muito obrigado e que me senti reconfortado. Não imaginava tanta solidariedade. Nossa família experimentou o vinho e o vinagre de seu carinho na cura das feridas abertas pela separação física, mas as suas preces nos tornaram mais forte na certeza da vida eterna, porque para a Karine, a glória de Deus se abriu, porque ela sempre foi o rosto de Deus no próximo que passou pela sua vida bonita.



 
 
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