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O sentido da Quaresma
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 
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Uma festa social exige de nós preparativos e sacrifícios. Um casamento, por exemplo, a noiva se prepara, prepara o seu enxoval, abdica de outros interesses porque a sua meta é o matrimônio. O noivo também se prepara. Quer dar à noiva uma vida tranqüila. As famílias de ambos também se preparam. Cada um, de acordo com as circunstâncias, deixam outros interesses de lado, para preparar e participar de uma festa inesquecível.

Muito mais significativa é a festa do Cristo Ressuscitado! Ele mesmo se preparou, foi tentado e testado de todas as maneiras, passou quarenta dias no deserto, rezando e fazendo penitência. Sofreu toda a paixão, voluntariamente porque estava se preparando para triunfar da morte e nos oferecer o resgate de nossos pecados.

A Igreja se une, a cada ano, mediante os quarenta dias da Quaresma, ao mistério de Jesus no deserto. A Quaresma é um tempo de organização para a festa da Páscoa.

Desde o início de cristianismo, a Quaresma constitui-se num tempo especial de orientação dos catecúmenos que seriam batizados na Vigília Pascal e iniciados na vida sacramental e das comunidades. Em nossos dias, a Igreja convida todos os seus filhos a preparar a Páscoa numa vida sóbria, com orações mais intensas, com gestos de penitência e caridade.

Mais do que simples preparação para a Páscoa, a Quaresma é tempo de grande convocação para que toda a Igreja se deixe “purificar do velho fermento para ser uma massa nova, levedada pela verdade”. (cf. 1 Cor 5,7-8).

É tempo favorável de nos convertermos ao projeto de Deus, ouvindo e acolhendo sua Palavra sempre viva e eficaz, que nos faz retomar a opção fundamental de nossa fé feita no Batismo.

A Quaresma nos chama à reconciliação, à mudança de vida, a assumir a busca da humanidade inteira por libertação, justiça, dignidade, reconciliação e paz. Alargamos ecumenicamente o coração, trazendo a Deus o clamor sempre mais forte do universo, que anseia por vida e liberdade, aguardando a plena manifestação dos filhos e filhas de Deus.

Enfim, a Quaresma coloca a Igreja bem solidária à paixão de Cristo e solidária também à paixão da humanidade, que sofre sem rumo, uns oprimindo, outros sendo oprimidos, mas, assim como carregamos as culpas uns dos outros, carregamos também o sofrimento nosso e alheio, pois somos um só corpo e, como no corpo humano, o que afeta um membro, afeta todo o corpo.

Quaresma tem o sentido maior de fazer-nos redimir as nossas faltas e também as faltas de toda a humanidade. É o sentido da solidariedade e, através dela, a preparação dos caminhos de um mundo melhor, mais fraterno, em direção à Ressurreição.



 
 
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