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Natal: Deus estabelece a sua tenda entre nós.
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 
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ISAIAS ao animar o povo de Israel, extraditado na Babilônia, fala-lhes da vinda do Salvador com essas comoventes palavras:

Sim! As velhas angústias terminaram, desapareceram de minha vista. As coisas antigas nunca mais serão lembradas, jamais voltarão ao pensamento. Mas haverá alegria e festa permanentes, coisas que vou criar, pois farei de Jerusalém uma festa, do meu povo uma alegria. E eu farei festa por Jerusalém, terei alegria no meu povo. Ali não mais se ouvirá o soluçar do choro, nem o suspirar dos gemidos. Não haverá ali crianças que só vivam alguns dias, nem adultos que não completem seus dias, pois será ainda jovem quem morrer com cem anos não alcançar os cem anos será maldição.” (Is 65, 16 a 21).

Pois bem, a gravidez de Maria chegou ao seu término e não tendo ela encontrado lugar nas estalagens deu à luz seu filhinho, reclinando-o numa manjedoura e o envolveu em panos.

E desta maneira, por meio dessa humilde virgem Ele, o Senhor de todo o universo, em uma noite esplendida, veio morar entre nós.

Aos pastores que passavam a noite cuidando dos seus rebanhos lhes apareceu um anjo e a glória de Deus os envolveu:

Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo povo: hoje na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor.”

“Glória a Deus no mais alto dos céus e na terra, paz aos que são do seu agrado.” (Lc 2, 9 a 12 e 13).

Mas vejam que contraste, o Senhor que criou o céu e a terra, os homens e todos os seres do mundo, nasce pobre, num estábulo de animais, sem qualquer assistência, embora fosse o esperado de gerações a gerações.

Grande mistério é o nascimento de Jesus: Deus se fez pequeno, para que o homem se torne grande.

Sendo de natureza divina, não usou de sua divindade, mas revestiu-se da nossa natureza e veio trazer a todos nós a grande novidade, a esplêndida notícia, somos todos irmãos, pois temos um mesmo Pai, que é Deus, o Senhor.

Francisco de Assis extasiado diante do mistério do nascimento de Jesus, do mistério dessa noite santa em que Deus veio habitar entre nós, em colóquio com Frei Leão, seu fiel confidente, na noite de Natal lhe segreda essas palavras memoráveis:

O Senhor foi bom demais conosco. Quando penso em Belém, só posso chorar. Não seu falar, irmão Leão. Só poderia dizer algumas palavras soltas, contudo, é melhor o silêncio com lágrimas.

Pois diz essas palavras soltas que o mistério do Natal te faz lembrar, insistiu Frei Leão. Francisco ficou muito tempo em silêncio, com os olhos fechados. Depois abriu a boca para dizer alguma coisa, porém, não disse nada. Houve um grande silêncio. Parecia que o Irmão estivesse controlando as emoções e tentando reduzi-las em palavras. No fim com voz suave e dulcíssima, começou a debulhar devarinho as palavras soltas: Belém. Humildade. Paz. Silêncio. Intimidade. Gozo. Doçura. Esperança. Benignidade. Suavidade. Aurora. Bondade. Amor. Luz. Ternura. Amanhecer...

As últimas palavras quase não se ouviram. Depois, o Irmão calou-se e não quis falar mais.” ( O IRMÃO DE ASSIS – Inácio Larrañaga – 18ª. Edição – Paulinas).


Diante de palavras tão profundas, que Frei Inácio coloca nos lábios de Francisco de Assis, faltam-me palavras para lhes comunicar a magnitude do mistério do Natal, pois minha mente se perde nos infinitos motivos da vinda do Senhor, que me perco na busca de uma razão plausível.

Na verdade não há explicação para tanto amor: Deus, o Senhor dos mundos, vir morar entre nós.

Se esse mistério é impenetrável, desconcertante, a lição advinda do presépio, porém, é muito clara.

Se Jesus, o Filho de Deus vivo, deixa de lado toda majestade divina e nasce pobre, é para nos fornecer um paradigma para pertencermos ao seu reino e para seguir seus passos, devemos abandonar o complexo de onipotência, de poder, de supremacia e nos empenharmos em refletir em nossa vida, aquilo que esse Menino elegeu como importante na vida.

Do Evangelho, que em grego significa boa nova, ressaltam lições que não podemos olvidar: 

Se queres me seguir. Tome sua cruz e me siga.”

“Aprendam de mim, que sou manso e humilde de coração e encontrarão descanso para suas almas.”

“Felizes os pobres porque deles é o reino dos céus.”

“Vocês, os pobres, são os escolhidos de meu Pai.”

“Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei.”

“Nisto reconhecerão que vocês são meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.”

“Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem.”

Esses são os valores, esses são os critérios de vida, que a criancinha nascida em Belém transmite a toda humanidade. Cabe a nós os adotarmos em nosso modo de viver, para que a paz, a alegria de viver, o gosto pela vida, a fraternidade, o amor entre todos os homens seja uma realidade e não uma utopia.

Ó Mestre fazei que procure mais consolar, que ser consolado. Compreender, que ser compreendido. Amar, que ser amado. Pois é dando que se recebe. É perdoando que se é perdoado. E é morrendo que se vive para a vida eterna. Amém.”

Feliz Natal e que Deus Menino, o Emanuel, nasça realmente em seu coração e em sua vida.



 
 
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