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Festa da Imaculada Conceição
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
 
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Em 08 de Dezembro de cada ano, a Igreja comemora o dogma, proclamado em 08 de dezembro de 1854 pelo Papa Pio IX, através da bula “Ineffilis Deus” [1] via da qual a Igreja reconhece que Maria, Mãe de Jesus, desde o instante de sua concepção foi preservada por Deus do pecado original, pois ela, desde o início de sua existência esteve sempre cheia de graças.

A Santa Igreja Católica crê que esse dogma tem suporte na Bíblia, uma vez que, segundo o Evangelho de São Lucas, o Anjo Gabriel ao anunciar-lhe a concepção divinal de Jesus, por ação direta do Espírito Santo, ao saúda-la disse: “ AVE CHEIA DE GRAÇA. O SENHOR É CONTIGO, BENDITA ÉS TU ENTRE AS MULHERES.” (Lc, 1, 28).

Segundo o entendimento da Igreja Católica, baseada na tradição patrística, necessário era que Maria Santíssima estivesse completamente livre de qualquer pecado (ausência da graça de Deus) para poder gerar em seu seio virginal, Jesus Cristo, Filho de Deus altíssimo.

A nossa Doutrina ensina que todo ser humano, desde seu nascimento, isto é desde sua origem, vem ao mundo com uma mácula de origem, chamado pecado original, reminescencia do epsódio biblico, no qual o primeiro homem, Adão, representando toda humanidade, rompeu a harmonia entre a criatura e o criador.

Assim, todo ser humano ao vir a este mundo é marcado por uma tendencia de origem, que cria em seu interior uma profundo desiquilio entre si e o seu criador.Por isso o Salmo 50 diz: “Eis que nasci na culpa, minha mãe concebeu-me no pecado.”

O ser humano não nasce com pecado pessoal, mas marcado, desde sua concepção com tendência de se colocar no lugar de Deus, como centro da própria vida, ou seja o ser humano, nasce com uma tendência original ao egoísmo, de ser ele mesmo o próprio deus.

É desta situação de pecado e desordem, chamada de pecado original, que Cristo nos veio salvar e da qual, Maria Santíssima foi, desde sua concepção, totalmente liberta.

Maria Santíssima, pelas poucas vezes que aparece nos Evangelhos, se apresenta como uma pessoa, totalmente banhada pela graça de Deus, totalmente livre de toda tendência ao egoísmo e livre de qualquer prepotência de ser igual a Deus.

No Evangelho de Lucas, no episódio da anunciação, ela se declara a “serva do Senhor” e se coloca, totalmente, nas mãos de Deus, para ser o veículo pelo qual o Filho de Deus veio a este mundo; “FAÇA-SE EM MIM, SEGUNDO A TUA PALAVRA.”

Afirmar que Maria Santíssima nunca esteve sob o domínio do pecado, não quer dizer que Ela é uma semi-deusa, mas que ela, foi uma mulher, pobre e humildade, embora preservada de toda culpa e tendência para o pecado, teve que peregrinar pelos caminhos da fé, descobrindo a vontade de Deus em cada momento de sua vida.

Em sendo, assim, num mundo em que, infelizmente, há, em muitos setores, a predominância mau, Maria Santíssima, é como um farol para toda a humanidade a proclamar que a felicidade está, não em possuir, em ter bens, mas em estar sempre unido a Deus, submisso a sua santa vontade.

O advento, época de preparação para a vinda do Senhor, é um momento muito propício para que toda humanidade ao relembrar o nascimento do Salvador, amparados pela mãe, concebida sem pecado original, possa trilhar os caminhos que leve a todos procurar sempre restaurar o equilíbrio original da criatura com o criador.

Seguindo os passos de MARIA IMACULADA CONCEIÇÃO, prendamos a dizer não ao pecado, que nos afasta de Deus e dizer sempre sim a sua santa vontade: Seja feita sua vontade, aqui na terra, da mesma forma que ela é feita no céu.

NOSSA SENHORA IMACULADA CONCEIÇÃO, rogai por nós, que recorremos a vós.


Notas:

[1] Posição e privilégios de Maria nos desígnios de Deus

1. Deus inefável, "cuja conduta toda é bondade e fidelidade", cuja vontade é onipotente, e cuja sabedoria "se estende com poder de um extremo ao outro (do mundo), e tudo governa com bondade", tendo previsto desde toda a eternidade a triste ruína de todo o gênero humano que derivaria do pecado de Adão, com desígnio oculto aos séculos, decretou realizar a obra primitiva da sua bondade com um mistério ainda mais profundo, mediante a Encarnação do Verbo. Porque, induzido ao pecado — contra o propósito da divina misericórdia — pela astúcia e pela malícia do demônio, o homem não devia mais perecer; antes, a queda da natureza do primeiro Adão devia ser reparada com melhor fortuna no segundo.

2. Assim Deus, desde o princípio e antes dos séculos, escolheu e pré-ordenou para seu Filho uma Mãe, na qual Ele se encarnaria, e da qual, depois, na feliz plenitude dos tempos, nasceria; e, de preferência a qualquer outra criatura, fê-la alvo de tanto amor, a ponto de se comprazer nela com singularíssima benevolência. Por isto cumulou-a admiravelmente, mais do que todos os Anjos e a todos os Santos, da abundância de todos os dons celestes, tirados do tesouro da sua Divindade. Assim, sempre absolutamente livre de toda mancha de pecado, toda bela e perfeita, ela possui uma tal plenitude de inocência e de santidade, que, depois da de Deus, não se pode conceber outra maior, e cuja profundeza, afora de Deus, nenhuma mente pode chegar a compreender.

3. E, certamente, era de todo conveniente que esta Mãe tão venerável brilhasse sempre adornada dos fulgores da santidade mais perfeita, e, imune inteiramente da mancha do pecado original, alcançasse o mais belo triunfo sobre a antiga serpente; porquanto a ela Deus Pai dispusera dar seu Filho Unigênito — gerado do seu seio, igual a si mesmo e amado como a si mesmo — de modo tal que Ele fosse, por natureza, Filho único e comum de Deus Pai e da Virgem; porquanto o próprio Filho estabelecera torná-la sua Mãe de modo substancial; porquanto o Espírito Santo quisera e fizera de modo que dela fosse concebido e nascesse Aquele de quem Ele mesmo procede.



 
 
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